São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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Holocausto tem evento multimídia na USP

MARCELO DE SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 50 anos do fim do genocídio judeu na Segunda Guerra ganha um evento multimídia a partir de hoje em São Paulo.
"Vestígios: 50 Anos do Holocausto", organizado pela crítica Radhá Abramo, leva ao Paço das Artes no campus da Universidade de São Paulo, uma série de pinturas, filmes, fotos, livros e histórias sobre a questão judaica.
O carro-chefe do evento é a exposição de telas e gravuras do artista plástico israelense Gershon Knispel -no Brasil pela primeira vez desde 1964, época que encerrou uma temporada de seis anos morando no país.
Nas 50 telas da exposição, Knispel retrata um assunto que impressiona pela crueldade da situação: as "orquestras da morte".
Compostas por músicos judeus que eram obrigados a tocar seus instrumentos nos campos de concentração- essas orquestras musicavam a caminhada agonizante de milhares de judeus em direção às câmaras de gás.
O terror vivido por esses músicos foi o que mais impressionou Knispel em seu encontro com K. Zetnick, famoso sobrevivente dos campos de concentração.
K. Zetnick foi quem, em 1966, sentou-se com Knispel em seu apartamento em Haifa, em Israel, por horas seguidas contando com detalhes as barbáries do nazismo.
"Desde então, deixei de lado a resistência em retratar em minha obra coisas que não tinha vivido na pele", diz Knispel.
"Mas, mesmo me dedicando, acho que ainda não cheguei à perfeição ao tentar retratar o sentimento desses músicos. Talvez nunca chegue", diz.
Apesar da constatação, Knispel não abandona o tema. As "orquestras da morte" foram suficientemente persuasivas para levá-lo a um mergulho profundo nos dias do Holocausto.
Na exposição paulistana, que vai até o dia 16 de dezembro, o público poderá conferir um desses mergulhos, no enorme painel batizado de "Metamorfose", considerado peça fundamental da mostra.
Nele, Knispel faz um retrato com imagens coloridas e sobrepostas, dividido em cinco cenas interligadas pelo símbolo da suástica, que se esfacela até transformar-se na estrela judaica.
"Metamorfose" mostra a chegada dos judeus aos campos de concentração, as mórbidas "orquestras da morte" e os movimentos de revolta contra o nazismo.
Sua participação no evento "Vestígios: 50 Anos do Holocausto" é para ele uma oportunidade de mostrar que o problema transcende a comunidade judaica.
"É uma responsabilidade de todos nós saber que esse perigo ainda existe e lutar para que ele não se repita com ninguém."
Knispel e sua arte representam um importante personagem na busca pela paz no Oriente Médio.
Ele encontrou-se várias vezes com o líder da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), Iasser Arafat, e mantinha conversas também com Yitzhak Rabin, o primeiro-ministro de Israel.
"É triste, mas Rabin morto contribuiu mais com o processo de paz do que quando estava vivo", diz Knispel.
"Com sua morte, um fato inédito ocorreu em Israel: a maioria finalmente aprova os acordos feitos com os palestinos. É um grande passo, mas só foi conseguido às custas da vida de Rabin."

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