São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Insegurança

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - A Polícia Militar invadiu, na madrugada do dia 8, um canteiro de obras no Morumbi, onde 18 operários eram mantidos como reféns por dois assaltantes. Resultado da operação: os dois assaltantes foram mortos, mas dois operários também.
O capitão que comandou a operação considerou-a um sucesso, apesar das mortes. A versão oficial do comandante vitorioso justificou a invasão e as mortes com um argumento: os assaltantes atiraram antes em um dos reféns.
Esta versão não foi comprovada até agora. Os próprios reféns sobreviventes a desmentem. Tudo indica que a PM cometeu uma ação criminosa, simplesmente assassinando assaltantes e reféns.
Na sequência das mortes foram cometidas infrações para dificultar a investigação do caso. Os sobreviventes foram levados para um quartel e instruídos sobre o que deveriam falar para a polícia e a imprensa. As cápsulas das balas que ajudariam a perícia a identificar os autores dos disparos sumiram. E os corpos foram removidos antes da chegada da perícia.
Este é um caso exemplar de como atua a nossa polícia. A pergunta, mais uma vez, é: como confiar nela?
Qualquer caso que envolva policiais induz o cidadão à dúvida: há sempre a desconfiança de que estejam sendo ou violentos, corruptos ou incompetentes. Ou tudo isso junto.
No Rio, ninguém sabe ao certo quem são os sequestradores. Mas todo mundo está seguro de que policiais participam das quadrilhas de sequestros. Na segunda-feira, a Divisão Anti-Sequestro informou que tinha uma lista com 25 policiais militares suspeitos.
No Maranhão, foram gravadas neste fim-de-semana cenas de policiais espancando assaltantes que acabavam de ser presos e já estavam dominados.
Estudo feito pela USP e divulgado pela Folha um dia antes dos assassinatos do Morumbi mostra o fracassos dos governos no combate à criminalidade e à violência.
Por quê? São "n" os motivos do aumento da criminalidade em cidades como o Rio e São Paulo: pobreza, desigualdade social, leis ultrapassadas, lentidão da Justiça, falta de recursos etc.
Mas há um fator hoje mais importante do que qualquer outro: a deterioração das polícias. Enquanto continuarem despreparadas, desqualificadas e sem controle, permanecerão focos de violência, corrupção e insegurança.

Texto Anterior: Discriminação positiva
Próximo Texto: O enigma dos bancossauros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.