São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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O enigma dos bancossauros

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - Os clientes do Nacional escaparam de encontrar as portas do banco fechadas hoje graças ao Unibanco. Caso não houvesse um comprador para a instituição, ela simplesmente viraria pó nessa semana.
As especulações sobre a saúde financeira do Nacional já tinham provocado uma corrida aos caixas do banco. Como sempre, quem estava sacando primeiro era o cliente caixa alta. O pequeno poderia acordar tarde, não fosse o socorro do fim-de-semana.
Aí está o grande enigma do mercado financeiro a partir de agora: o estoque de compradores. Tal como a instituição mineira, há mais pequenos e médios bancos descapitalizados. Estão sobrevivendo às custas dos empréstimos da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.
O Nacional, por sinal, estava dependurado nas tetas do Banco do Brasil. Apenas em um dia o BB emprestou nada menos do que R$ 1,3 bilhão ao banco dos Magalhães Pinto. Tudo em nome da saúde do sistema financeiro.
A sobrevivência desses pequenos e médios bancos, internados na UTI dos bancos oficiais, depende do aparecimento de um comprador. O Banco Central sabe quem são e não poderá continuar aguardando a crise se tornar insustentável para agir.
Foi assim com o Econômico, repetiu-se agora com o Nacional. Em nome da cautela e de interesses políticos, o governo Fernando Henrique ficou empurrando com a barriga a crise nos dois bancos. O primeiro está fechado e o segundo foi salvo no último minuto. Levaram e ainda vão levar para o buraco muito dinheiro do contribuinte.
Caso o BC não passe para a ofensiva, forçando o ajuste ou a venda desses bancos, novas crises no mercado financeiro vão surgir. Como não deve haver muitos compradores disponíveis na praça -e pouco produto que preste-, a tendência é de enxugamento do mercado financeiro.
E "incentivo" para isso é o que não falta. O fim da farra dos bancossauros, como o petista José Genoíno gosta de chamar os bancos brasileiros, está sendo financiado pelo contribuinte -seja com o BC assumindo rombos, seja com a concessão de subsídios fiscais e empréstimos a juros baixíssimos.
Definitivamente, banco no Brasil está longe de ser um negócio de risco.

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