São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Embaixador se defende e faz acusações à PF

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O embaixador Júlio César Gomes do Santos, 55, acusou ontem a Polícia Federal de ter mentido para conseguir a autorização para gravar seus telefonemas.
Santos pediu que sua indicação para a Embaixada do Brasil no México seja suspensa -e não cancelada- "até que a apuração dos fatos esclareça a verdade".
Em comunicado à imprensa, com sete páginas, o embaixador pede que suas contas bancárias sejam investigadas. Afirmando que não cometeu crime nenhum, disse que vai processar quem for preciso para provar sua inocência.
Ele anexou cópia de recibos de despesas feitas em Nova York para provar que não teve as despeas de sua viagem aos EUA, em julho, custeada por lobby.
O embaixador assume apenas que pegou "carona" para os EUA num jatinho de um amigo de 15 anos.
No comunicado, o embaixador tenta explicar, ponto por ponto, cada uma das 13 conversas gravadas pela PF e repassadas depois para o presidente.
Ele disse que foram "grampeados" também os seus telefones do Palácio do Planalto, pois duas das conversas reproduzidas ele teve em sua sala, no 3º andar. A PF disse que teriam sido apenas seus telefones residenciais.
O embaixador afirma não se lembrar apenas da conversa em que cita o senador Gilberto Miranda (PMDB-AM).
"Não me lembro de ter dito as palavras que foram publicadas", afirmou. "Se o fiz, foi em tom de troça".
Segundo diálogo publicado pela revista "IstoÉ", o embaixador sugeria ao dono da Líder Táxi Aéreo e representante da empresa Raytheon no Brasil que pagasse ao senador propinas para ele evitar atrapalhar o andamento do projeto Sivam, do qual é relator.
O embaixador nega ter exercido tráfico de influência, especialmente no caso Sivam. "É apenas uma questão de retórica."
A Folha apurou que, desde que pediu demissão do cargo de chefe da Coordenadoria de Apoio e Cerimonial da Presidência -um dos cargos mais próximos de FHC-, Júlio César permaneceu em Brasília, na casa de um amigo.
Na nota, ele afirma que se o presidente não tivesse aceito seu pedido de demissão e resolvesse demiti-lo ex-officio (por ofício) ele iria procurar um advogado "para provar, publicamente", que é honrado.
Contra a PF
Santos acusou a Polícia Federal de passar para o presidente Fernando Henrique Cardoso apenas um resumo com as transcrições e ter vazado para a revista a íntegra dos diálogos.
"As fitas reproduziam realmente conversas como foram de fato sustentadas ou teriam sido 'editadas' aqui e ali para mostrar algo diferente do que possa ter sido dito ou diferente do contexto em que se teriam produzido?", questionou o embaixador.
Santos volta todas as suas críticas para a Polícia Federal. Ele afirma que a PF enganou um magistrado, "faltando-lhe com o respeito", ao alegar que ele era suspeito de tráfico de drogas.
"O diretor da PF, de nome (Vicente) Chelotti, declarou à imprensa uma coisa e, no relatório que fez chegar às mãos do presidente (...) dizia outra", afirmou.
"Prevalecendo a teoria de que mentiu para o juiz, como parecem demonstrar os fatos, terá mentido igualmente para o presidente da República", completou.
Mas o embaixador não descarta a hipótese de o juiz ter agido de má-fé. "Se não mentiu ao juiz e este mandou autorizar a escuta com base na suspeita de tráfico de influência, cabe à corregedoria avaliar se o magistrado agiu com propriedade", afirmou.
A Folha tentou ouvir a PF e o juiz Irineu de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Entorpecentes do DF. Não recebeu retorno das ligações.

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