São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Documento revela contradição

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um documento da PF (Polícia Federal) revela uma contradição na versão dada sobre os motivos que levaram o órgão a pedir à Justiça o "grampo" nos telefones do embaixador Júlio César Gomes dos Santos.
Oficialmente, a PF divulgou a versão de que investigava tráfico de drogas. O relatório final da escuta, preparado pelo delegado Mário José de Oliveira Santos, 43, afirma, porém, que o que se investigava era tráfico de influência.
O delegado disse à Folha que "cometeu um erro" ao dizer, no relatório apresentado ao diretor-geral da PF, Vicente Chelotti, que o embaixador era investigado por tráfico de influência.
No relatório, o delegado afirma que o "grampo" nos telefones residenciais do embaixador possibilitaram o monitoramento de 13 chamadas "que confirmam as suspeitas, que deram origem a esse serviço, de que Julio Cesar realiza 'tráfico de influências', usando de seu prestígio e cargo no governo federal para conseguir favores e vantagens para, principalmente, empresários".
Confrontado pela Folha com o trecho do seu relatório, o delegado Mário Santos insistiu na versão de que iniciou as investigações por suspeita de envolvimento do embaixador com narcotráfico, pois recebia, afirmou, insistentes denúncias anônimas.
"Aí (no relatório final) é que está o meu erro. Não fiz a crítica necessária a um relatório preparado por um analista que me assessora e levei a informação à frente", afirmou o delegado à Folha, pelo telefone. "Era uma posição pessoal do analista, e eu caí nela."
Mário Santos não quis fornecer à Folha o número do telefone em que recebia as denúncias -disse que era um número interno da PF. Disse também que era ele mesmo quem atendia aos telefonemas, mas que não se lembrava se a voz era de homem ou de mulher.
O delegado diz que as denúncias eram de que um certo "JC" fazia tráfico de drogas. Foram dados ainda o endereço e os telefones de "JC", mas, segundo ele, sem identificar quem era.
Mário Santos disse que só identificou indícios de tráfico de influência nas conversas do embaixador depois que o juiz Irineu de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Entorpecentes do DF -que autorizou o "grampo telefônico"-, decidiu suspender a escuta, no dia 21 de setembro, por não ter encontrado indícios de tráfico de drogas.
"O juiz disse que havia indícios de outros crimes que fugiam à competência dele e encaminhou essa orientação para a PF", disse o delegado. Ouvido pela Folha, o juiz Oliveira Filho confirmou essa versão, mas não descartou a hipótese de que pode ter sido enganado para autorizar a quebra de sigilo.
Mário Santos afirmou que agiu dentro de suas atribuições. "Não extrapolei nenhuma norma interna." Com o vazamento do seu relatório à imprensa, na semana passada, disse que procurou a direção da PF para "esclarecer tudo".

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