São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Insatisfeito, brigadeiro deixa Estado-Maior

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O brigadeiro Ulysses Pinto Corrêa Neto, até ontem chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, decidiu deixar o cargo e passar para a reserva. O gesto se deu em solidariedade à demissão de Mauro Gandra do Ministério da Aeronáutica.
Gandra foi exonerado sob suspeita de tráfico de influência no caso Sivam. No domingo, quando foi anunciada a saída de Gandra, Ulysses foi anunciado como ministro interino pelo porta-voz da presidência, Sergio Amaral.
Ele não chegou, porém, a assumir interinamente o cargo. Ontem, o "Diário Oficial da União" publicou a exoneração de Mauro Gandra e a nomeação imediata de Lôbo. Ulysses disse que não havia motivos para a saída do ex-ministro e culpou a imprensa pela demissão.
As críticas do brigadeiro revelam publicamente a insatisfação da cúpula do Ministério da Aeronáutica com a indicação de Lélio Viana Lôbo para o ministério.
Pela linha sucessória da Aeronáutica, quem deveria assumir o cargo era o próprio Ulysses. Só que o presidente Fernando Henrique Cardoso, na tentativa de salvar o Sivam, decidiu trazer de volta Lôbo. Quando ministro no governo Itamar Franco, Lôbo era um defensor entusiasmado do projeto.
As críticas de Ulysses à saída de Gandra foram feitas no fim da tarde, na saída do Ministério da Aeronáutica, após a cerimônia de transmissão de cargo.
A solenidade de posse de Lôbo aconteceu antes, às 15h, no Palácio do Planalto, numa cerimônia reservada, que durou dez minutos. Normalmente, o ex-ministro participa dessas cerimônia. Gandra, porém, não compareceu ao Planalto. Nem Ulysses.
Indagado se o ex-ministro poderia responder às acusações de tráfico de influência, permanecendo no cargo, Ulysses disse que Gandra não tem que se defender de "coisa nenhuma", porque o ex-ministro não fez nada.
"Vocês veiculam inverdades, e nada acontece em relação a isso. Todos os jornais, principalmente a Globo, foram tremendamente injustos", disse o brigadeiro com o dedo em riste para os jornalistas.
Em seu discurso de despedida do ministério, Gandra disse que "os açoites deliberados dos interesses encobertos devem ser reduzidos a suas reais proporções: nada mais que manobras de motivação ocultas na sombra".
Ulysses disse que "começou a amadurecer a idéia" de ir para a reserva quando ficou sabendo da demissão de Gandra. "Fiquei muito triste com a saída de Gandra. Fomos colegas de turma, e nós dois somos como se fôssemos uma única pessoa", disse.
O brigadeiro procurou abafar a insatisfação do Alto Comando da Aeronáutica com a indicação do ministro Lôbo. Segundo ele, Lôbo foi recebido com "os braços abertos". "Ele é um companheiro excepcional", disse Ulysses.
A transmissão do cargo no Ministério da Aeronáutica ocorreu em solenidade fechada para a imprensa. Às 17h, dois Mirages deram um vôo rasante sobre o ministério. Gandra e Lôbo evitaram a imprensa e não saíram pela porta principal do prédio.

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