São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Nomeação racha Alto Comando

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cúpula do Ministério da Aeronáutica está dividida quanto à indicação do ex-ministro e militar da reserva Lélio Viana Lôbo para assumir a pasta. Parte do Alto Comando não gostou de ver um militar da reserva chefiar um ministério com 28 mil homens na ativa.
A facção do Alto Comando que acatou a escolha do presidente Fernando Henrique Cardoso interpretou o ato como um mal menor, uma decisão política para salvar o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) -cuja implantação é tratada hoje no Ministério da Aeronáutica como tarefa prioritária.
Lôbo chefiou o ministério no governo Itamar Franco (92-94). Ele e o então chefe da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), Mário César Flores, convenceram Itamar a tirar o Sivam da gaveta. Os dois comandaram o processo da licitação ganha pela empresa norte-americana Raytheon.
Por causa desse envolvimento com o projeto, parte da cúpula da Aeronáutica acha que a volta de Lélio Viana Lôbo pode ajudar a articular a salvação do Sivam. Isso, por si só, justificaria a quebra na escolha tradicional do ministro.
Além da quebra da linha natural de sucessão, que previa a entrega do ministério ao atual chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, brigadeiro Ulysses Pinto Corrêa Netto, o grupo insatisfeito incomoda-se com o fato de que FHC aceitou a exoneração de Mauro Gandra sem ter provas que o incriminassem.
A hospedagem durante três dias do ex-ministro Gandra na casa do empresário José Afonso Assumpção, dono da Líder Táxi Aéreo, foi considerada, em nota oficial divulgada anteontem, uma "insinuação". A Líder é uma das empresas representantes dos negócios da Raytheon no Brasil.
Gandra, lembram alguns brigadeiros, foi o principal articulador no meio militar, junto com o seu colega do Ministério do Exército, Zenildo de Lucena, do projeto dos desaparecidos políticos. Ele defendeu publicamente o reconhecimento dos desaparecidos e a indenização de suas famílias.
Os brigadeiros críticos da escolha também consideram Lélio Lôbo um ministro que reivindica pouco.
Como um todo, o Ministério da Aeronáutica lamenta que o Palácio do Planalto e os líderes do governo no Congresso tenham deixado a tramitação do projeto Sivam chegar ao atual estágio.
Depois da retirada da empresa Esca da parceria com a Raytheon, em maio, o Planalto levou quase três meses para refazer o contrato e remetê-lo ao Congresso.
Os militares acreditam que um dos motivos da reação contrária ao projeto está no fato de a Aeronáutica querer manter em seu poder o programa de informática do projeto relativo ao software de inteligência. Acham mesmo que o senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) trabalha para concentrar todo o projeto na empresa norte-americana Raytheon.

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