São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

La Fura volta a SP com dois espetáculos

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Grupo: La Fura dels Baus
Espetáculo: M.T.M.
Quando: 26 a 30 de novembro, às 21 horas
Espetáculo: Suz/O/Suz
Quando: 5 a 10 de dezembro (segunda a sábado, às 21 horas; domingos, às 20 horas)
Onde: Sesc Interlagos (R. Manoel Alves Soares, 1.100; tel. 571-7088)
Ingressos: R$ 45,00

Em vez de materiais orgânicos, como cabeças e vísceras de cordeiro, melancias e alfaces, utilizados em "Suz/O/Suz", sucesso na Bienal de São Paulo de 1991, o grupo de teatro catalão La Fura dels Baus usa e abusa da tecnologia em seu novo espetáculo, "M.T.M.", que estréia no próximo domingo, no Sesc Interlagos.
No entanto, o ritmo vertiginoso e o clima de anarquia cênica continuam. Se no ambiente tórrido e primitivo de "Suz/O/Suz" o público tinha que se proteger dos líquidos e farinhas atirados pelos atores, na frieza futurista de "M.T.M" há que se tentar escapar das 150 caixas de papelão arremessadas velozmente em várias direções, criando um jogo de construção e desconstrução.
"Estávamos nos apresentando em Jerusalém, três anos atrás, quando surgiu a gota d'água para que começássemos a desenvolver 'M.T.M.'", explica Hansel Cereza, ator e coordenador do Fura.
"Um comunicado publicitário qualquer divulgou que tínhamos tido problemas com a igreja ortodoxa e essa falsa notícia chegou mais distorcida ainda à Espanha, onde se comentou, por exemplo, que havíamos sido boicotados pelo exército. Foi um típico caso de manipulação de informação".
Definida como uma parábola grotesca e catártica, "M.T.M." denuncia o poder da mídia em manipular a verdade. Para expressar o bombardeio de informações e a paradoxal dificuldade de comunicação, apesar dos recursos e da rapidez com que se processa hoje em dia, o Fura envolve o público num ambiente em que o irreal e o hiper-real se misturam.
Ao entrar na enorme tenda montada no Sesc Interlagos, os espectadores se verão em meio a uma discoteca, onde uma gigantesca tela de vídeo multiplica as imagens das pessoas.
Como sempre, a horda de atores invade e compartilha o palco-platéia, desta vez empunhando filmadoras implacáveis, que captam tudo -inclusive o personagem que é arrancado do meio do público para ser completamente despido.
Uma tela de projeção e duas paredes de espelhos, colocadas em lados opostos, tudo em dimensões gigantescas, garantem a produção incessante de imagens, que se chocam com a música industrial, gerada por computadores.
O sentido de manipulação da peça se estende também ao título. "É uma sigla manipulável", diz Cereza, enfatizando os múltiplos significados que o "M.T.M" pode adquirir.
Nos programas que costuma distribuir, o Fura enumera 86 formas de interpretar a sigla. Entre outras, "Muéstrame Tus Miserias", "Mi Tia Matilde", "Mentira Total Mentira", "Mary Tells Me, "Mamas Tiernas Macizas, "Más Trabajo Ministros, "Merlin Think Magic.
Segundo Cereza", "M.T.M" representa uma evolução na trajetória do Fura. "Além dos meios audiovisuais, utilizamos o texto falado".
Negando a violência atribuída aos espetáculos do grupo, ele explica: "A agressividade parte, na verdade, do público, que fica cara a cara com os atores. Em nossos espetáculos, o espectador não se senta numa cadeira, como ocorre de hábito, e isso tira sua segurança".
Cereza enfatiza que o teatro do Fura dels Baus é considerado agressivo porque expõe temas contundentes de forma muito direta. "Por necessidade vital, o Fura é transgressor", afirma.

Texto Anterior: Cagney faz gângster trágico
Próximo Texto: Ingresso inclui transporte
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.