São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995 |
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Viva a oposição "Não há oposição. Só existe birra (...) Afinal, é oposição a quê? (...) Se for a um bom programa, está errado, pois significa oposição ao Brasil". Essas considerações, emitidas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, por certo não condizem com o seu garboso título de "príncipe dos sociólogos". O pensador italiano Norberto Bobbio, cuja obra FHC certamente conhece, organizou um "Dicionário de Política", que o presidente já deve ter consultado. Lá, no longo verbete "Oposição", Bobbio a define como "elemento característico e distintivo das democracias". Diz-se que Fernando Henrique já havia pedido para esquecer o que ele escreveu, mas não consta que teria pedido para esquecer o que ele leu. E não se trata apenas de um xiste típico do bom humor de FHC. Uma proposta de iniciativa do governo dá um sentido mais concreto às palavras do presidente. É a idéia de alterar o regimento da Câmara para dificultar o uso dos Destaques de Votação em Separado (DVSs), tirando grande parte do espaço de atuação das oposições. Não há razões para duvidar que FHC seja sincero quando diz que quer o melhor para o país. Também é compreensível a sua pressa na aprovação das reformas. Nada disso porém vale o enfraquecimento das instituições democráticas. Mais ainda, afirmar que quem é contra o seu projeto é contra o Brasil não condiz com a imagem de democrata pluralista que sempre foi a de FHC. É óbvio que FHC não é o detentor exclusivo da verdade. Seu plano vem sendo positivo para o país, mas, como tudo que é humano, está sujeito a falhas. O papel da oposição em detectar falhas e tentar corrigi-las é componente essencial da democracia. Texto Anterior: O BC e a política Próximo Texto: Ouvidos ao delito Índice |
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