São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Bancões e banquinhos

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O Banco Mundial e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estão abrindo linhas de crédito no valor de US$ 10 milhões cada banco. Objetivo: ampliar os fundos disponíveis para os chamados "bancos populares".
São casas bancárias destinadas a conceder créditos de pequeno valor (entre R$ 1 mil e R$ 4 mil), sem a exigência do que os bancos normais chamam de garantias reais.
Ou seja, o beneficiário do crédito não precisa dar como garantia do empréstimo uma casa, um carro ou qualquer coisa do gênero. Basta o aval de alguém, não raro uma pessoa com bens tão escassos quanto os do beneficiário.
Os créditos destinam-se a aumentar a renda do favorecido -ou, em certos casos, a permitir uma melhora na sua qualidade de vida, quando, por exemplo, se trata de empréstimo para a compra de uma simples geladeira.
A inspiração desse tipo de operação é, claramente, o "Grameen Bank", que funciona já faz uns 20 anos em Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo, com resultados considerados extraordinários.
O banco de Bangladesh é sempre mencionado, em qualquer encontro internacional sobre temas sociais, como um exemplo a ser imitado. Permitiu, entre outras coisas, puxar um lote numeroso de pessoas acima da linha de pobreza graças à melhoria na renda proporcionada pela atividade econômica propiciada pelos créditos.
Com um detalhe: a porcentagem de maus pagadores tem sido sistematicamente inferior à que se verifica rotineiramente nos bancos convencionais.
É evidente que esse tipo de iniciativa não tem nem de longe o mesmo impacto da criação de um novo superbanco, como o Unibanco, após a compra da parte boa do Nacional.
Mas desconfio que o resultado para o cotidiano de comunidades geralmente à margem do sistema financeiro e do próprio capitalismo é imensamente superior ao que se vai conseguir com os cerca de R$ 4 bilhões que, pelas contas iniciais, é a parte da "viúva" (você, contribuinte) no pacote do Nacional.

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