São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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FHC diz que Graziano fica e é de confiança

WILLIAM FRANÇA
DO ENVIADO ESPECIAL A TERESINA

Erramos: 28/11/95
Na edição de 25/11 a Folha reproduziu de forma equivocada parte de uma entrevista coletiva concedida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em Teresina (PI). O comentário "é um homem de minha total confiança", publicado à pág. 1-7 ( Brasil), referia-se ao ministro da Justiça, Nelson Jobim, e não a Francisco Graziano, então presidente do Incra, como foi erroneamente informado. Leia texto sobre o assunto à pág. 1-5 ( Brasil) de hoje.
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, no início da tarde, em Piauí, onde esteve para inaugurar uma ponte (leia reportagem nesta página), que não vai demitir seu ex-secretário particular e agora presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano, sem que tudo seja apurado.
Segundo investigação conduzida pelo Ministério da Justiça, todas as evidências apontam Graziano como o responsável pelo pedido para que a PF grampeasse o telefone do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, ex-chefe do cerimonial do Palácio do Planalto e acusado de tráfico de influência no Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
"Democracia não é fazer uma chacina pública", disse FHC ao descartar a demissão de Graziano. O presidente disse que, se forem constatadas irregularidades, fará cortes. "As pessoas não vão ficando aí como se fossem um tumor."
Para FHC, não não se deve transformar coisas pequenas em grandes dramas. Considera ainda que "o povo cansa de tanta fofoca". Sobre Graziano, disse o presidente: "É um homem de minha total confiança".
A seguir, os principais trechos da entrevista.

Pergunta - Onde está o presidente do Incra, Francisco Graziano?
Fernando Henrique Cardoso - Ele está noutra região para distribuir títulos de propriedade.
Pergunta - Ele vai ser demitido?
FHC - Imagina você. Ele é um homem da minha total confiança. Está ajudando o governo. Não transformem umas coisas que têm um certo significado, estão circunscritas, num grande drama.
Se houver algum problema, o presidente é o primeiro a tomar decisões e resolve.
Pergunta - Como é que está a situação do Graziano?
FHC - O porta-voz já falou. Ele disse que (tanto) a questão do Graziano, quanto outras mais que apareçam, depende de verificar do que se trata. Enquanto não se verificar, não há o que fazer. Tem que ver. Há alguma coisa errada? Corrige-se. Se não tiver nada, tudo bem, melhor ainda.
Pergunta - O sr. aceitará a demissão dele?
FHC - Meu Deus do céu! Não levantem questões que não estão postas. É preciso primeiro examinar: democracia não é fazer uma espécie de chacina pública das pessoas. É ver, analisar, ver se tem razão ou não tem razão, se fez, se fez mesmo.
Antes disso, o presidente da República não toma medidas de afogadilho. É tudo com objetividade -obviamente dentro daquilo que é imperativo numa administração aberta, democrática, como é a minha. Mas sem essas precipitações. Nada disso. Vamos continuar trabalhando pelo país.
Eu garanto a vocês que estiveram há pouco com o povo lá na ponte. Esse povo cansa de ver tanta fofoca. Vamos parar com isso. Há um problema? Resolvemos o problema.
Pergunta - E se forem comprovadas as irregularidades contra o Graziano?
FHC - Se... Se... Por que eu vou trabalhar sobre hipóteses? Eu já não aceitei algumas demissões mesmo sem nada comprovado? E, aliás, não havia nenhuma razão objetiva -apenas as pessoas quiseram me deixar mais à vontade.
O Brasil não é mais o Brasil do passado, em que as pessoas vão ficando aí, como se fossem um tumor. Não é isso, não. Eu corto logo, e, aí, acaba o assunto.
Pergunta - Se o Graziano sair, não vai ser ruim para a reforma agrária?
FHC - Ele tem sido um excelente diretor para a reforma agrária. Acho que, quanto mais ele puder trabalhar pela reforma agrária do país, melhor.
Pergunta - Vai ter a CPI do Sivam?
FHC - CPI para que, se você não tem nenhum caso objetivo? Se houver alguma irregularidade -e eu já disse isso um milhão de vezes-, qualquer irregularidade, apresentem. Eu sou o primeiro a corrigir. Se acharem que não foi corrigida, aí, sim, façam a CPI. Mas ninguém disse nenhuma, nem uma...
Pergunta - E como fica o secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge?
FHC - Ele é uma pessoa de absoluta confiança minha. Um homem de uma seriedade absoluta. Não tem nenhuma irregularidade. (pausa) Não sei do que se trata qualquer irregularidade que você (o repórter) esteja se referindo...
Pergunta - E o diretor da Polícia Federal, Vicente Chelotti?
FHC - (sem resposta)

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