São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Economistas prevêem crescimento lento

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor produtivo da economia não deve esperar que 1996 seja muito melhor que o segundo semestre deste ano. A taxa de juros continuará elevada -ainda que inferior à praticada hoje- e a economia crescerá lentamente.
Esse é o cenário traçado pelos economistas Mario Henrique Simonsen, ex-ministro do Planejamento (governo Figueiredo), e Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central (governo Collor).
As avaliações foram feitas ontem, durante o seminário "O Que Esperar de 1996", organizado pela Internews, no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo.
Como o ex-ministro Simonsen não pôde comparecer pessoalmente, por problemas de saúde, sua participação se deu por meio de um depoimento gravado em vídeo, que foi apresentado no Anhembi.
Também participaram do seminário o ministro da Fazenda, Pedro Malan, o embaixador Marcílio Marques Moreira, que também comandou a economia do país, e Gustavo Franco, diretor de assuntos internacionais do BC.
Para Simonsen, a economia brasileira deve crescer no próximo ano alguma coisa em torno de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto, que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país). Simonsen classifica de "nada brilhante" este desempenho.
Ibrahim Eris é ainda menos otimista ao arriscar o ritmo de crescimento para o país em 1996.
Para ele, a economia crescerá entre 2% e 3% do PIB, sendo que o índice mais provável para o ex-presidente do BC é 2%.
Para Simonsen, o crescimento lento da economia será resultado ainda da política monetária "extremamente apertada" adotada pela equipe econômica, que incluiu os juros altos mas também os elevados compulsórios sobre os depósitos bancários.
Ibrahim Eris chega mesmo a concluir que o desemprego verificado no segundo semestre de 1995 pode vir a crescer.
Para Eris, isso vai ocorrer em grande parte porque os juros devem cair no início do ano que vem, porém ainda continuarão altos. Na definição de Eris: "os juros vão cair, mas vão continuar altos, porém, decentemente altos".
Como resultado dessa queda do nível dos juros, avalia o ex-presidente do BC, haverá fuga de capital externo especulativo, o que Eris considera saudável.
Tanto Simonsen quanto Eris concordam na principal causa para esse quadro pouco otimista para 1996.
A razão para isso é a falta de um ajuste fiscal sério, que em grande parte, na avaliação de Simonsen, foi causada pela própria política de juros altos.
"A política monetária adotada pelo governo foi responsável pelo desequilíbrio fiscal", afirmou o ex-ministro do Planejamento.
Os principais atingidos por essa política foram os Estados e municípios, que tiveram forte crescimento de suas dívidas, acompanhado de aumento nos gastos com pessoal, principalmente no caso dos Estados.
"O fato é que as perspectivas de reversão desse quadro são muito remotas", disse.
O mais grave, avalia o ex-ministro, é que as propostas de reforma apresentadas ao Congresso pelo Executivo são "defensivas".
"As reformas pretendem apenas evitar que o Estado vá à falência, mas elas não recuperam a capacidade de investimento da máquina administrativa", afirmou o ex-ministro.
Ibrahim Eris classifica a lentidão no campo das reformas fiscais como uma "nuvem negra", que o país enfrentará no longo prazo.
Cenário Externo
Para o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira, o quadro externo será favorável para a economia brasileira.
Na avaliação de Marques Moreira, esse cenário positivo fará com que o Brasil amplie sua participação no comércio internacional.
Isso vai significar crescimento tanto das exportações quanto das importações.

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