São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Governo monta estratégia contra parecer de Miranda

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo montou uma estratégia no Senado para derrubar o parecer do senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), contrário ao pedido de autorização feito pelo governo federal para contrair empréstimo externo de US$ 1,4 bilhão, para instalar o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
O líder do governo, Élcio Álvares (PFL-ES), encarregou o vice-líder José Roberto Arruda (PSDB-DF) de estudar todos os aspectos técnicos do projeto para elaborar um parecer "de oposição" ao de Miranda, relator do assunto na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).
Arruda foi escolhido, segundo Álvares, por ser "objetivo, bom de debate e ter raciocínio cartesiano". O líder percebeu que nenhum senador tem conhecimento técnico suficiente sobre o Sivam para contestar as críticas de Miranda e defender a posição do governo.
"Ele me desafiou para um debate e isso me preocupou. O Gilberto me daria um banho se eu fosse debater com ele", disse o senador do PFL.
Outra providência tomada ontem por Álvares foi pedir informações ao Ministério da Aeronáutica e à SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) sobre o sistema de radares oferecido pela empresa norte-americana Raytheon, para subsidiar o parecer do governo.
Como Arruda não é membro da CAE, o senador Vilson Kleinubing (PFL-SC), também vice-líder do governo, deverá assinar o relatório oposto ao de Miranda.
O peemedebista acusa o governo de estar querendo comprar da Raytheon uma tecnologia "defasada e cara" para o sistema de controle do tráfico aéreo e ambiental da Amazônia através de radares.
Na próxima terça-feira, quando terminar o prazo do pedido de vista coletiva ao parecer de Miranda, o líder do governo vai solicitar adiamento da votação.
Sua intenção é protelar a decisão da CAE até a conclusão da investigação que será feita pela comissão especial do Senado sobre os aspectos técnicos do sistema da Raytheon e sobre todo o episódio da escuta do telefone do ex-chefe do cerimonial da Presidência Júlio César Gomes dos Santos.
Jobim irrita
Ontem, Álvares estava irritado com o ministro da Justiça, Nelson Jobim, que, em resposta a pedido seu para que encaminhasse relatório completo sobre o "grampo, mandou-lhe um fax com a cópia da portaria que proíbe a escuta telefônica. "A portaria já está em todos os jornais", disse o líder.
O ministro também ainda não encaminhou à CAE a transcrição das conversas gravadas pela Polícia Federal e a íntegra do processo que culminou no "grampo do telefone do embaixador, feito na última terça-feira.
A comissão especial -resultado da fusão informal da CAE com as comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional e de Controle e Fiscalização do Senado- será instalada na próxima terça-feira.
Álvares não gostou da decisão da Câmara dos Deputados de também criar uma "supercomissão" para investigar o Sivam.
"A competência de decidir sobre o empréstimo para o Sivam é do Senado. Será uma superposição de funções", disse.

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