São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Versão de Graziano contradiz assessor

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA AGÊNCIA FOLHA, EM ORIXIMINÁ

Chefe do Incra afirma ter levado escuta a presidente no dia 9; até 5ª, seu assessor dizia ter sido no dia 14
O presidente do Incra, Francisco Graziano, divulgou ontem nota oficial que contradiz a versão que a sua assessoria de imprensa vinha apresentando até a última quinta-feira sobre o escândalo do "grampo" na casa do embaixador e ex-chefe do cerimonial da Presidência da República, Júlio César Gomes dos Santos.
Até sair a nota de Graziano, exigida pelo Palácio do Planalto, prevalecia a versão do jornalista e assessor de imprensa do Incra, Augusto Fonseca, 35.
Segundo Fonseca afirmava até então, Graziano teria tomado conhecimento do assunto no dia 14 passado (terça-feira) por meio de relato feito pelo próprio assessor.
"O meu sócio (o repórter fotográfico Mino Pedrosa) me procurou na terça-feira (14) para me dizer que tinha passado para a "IstoÉ" as transcrições das gravações feitas na casa do Júlio César. Eu fiquei puto com ele e levei o assunto para o Chico (Francisco Graziano). Falei da gravidade do caso e disse para ele passar para frente. E foi isso que ele fez. Procurou o presidente no mesmo dia"', disse Fonseca.
Na nota, Graziano confirma que foi no dia 9 que ele levou ao conhecimento de FHC o relatório da PF (Polícia Federal) que resumia a escuta telefônica feita na casa de Júlio César. Essa versão foi divulgada anteontem pelo ministro Nelson Jobim (Justiça).
"Tal documento foi-me entregue, nesse mesmo dia (9), por meu assessor no Incra, Paulo Chelotti, que o obteve da PF, de onde é funcionário. Minha lealdade ao presidente fez-me receptor de um documento que comprometia seriamente a idoneidade de um seu próximo assessor. Portador dessa grave suspeita, agi com presteza: procurei imediatamente o presidente da República e lhe dei conhecimento dos fatos", afirmou.
Para o presidente do Incra, "isso resume" a sua participação nesse "lamentável episódio".
No começo da tarde, o assessor da presidência do Incra, Paulo Chelotti, também divulgou nota, confirmando a de Graziano.
Ele disse que entregou no dia 9 a Graziano os documentos que recebeu de agentes da PF resumindo a escuta telefônica feita na casa do embaixador Júlio César.
"Agi dessa forma porque tinha certeza de que, diante da lealdade do dr. Francisco Graziano para com o presidente da República, o grave resultado do trabalho realizado pela PF rapidamente chegaria ao conhecimento de quem de direito para tomar as providências cabíveis."
Chelotti é irmão do diretor da PF, Vicente Chelotti. Tão logo a nota foi divulgada, o diretor da PF informou que seu irmão será convocado "o mais rápido possível" para prestar depoimento na sindicância da PF para apurar os fatos sobre a escuta clandestina.
Mais tarde, em Oriximiná (800 km a oeste de Belém) -onde esteve para entregar o primeiro título de propriedade a remanescentes de quilombos-, Graziano disse que não se sente ameaçado no cargo.
Distante do Sivam e dando sequência às suas atividades de presidente do Incra, viaja hoje para Colorado do Oeste, em Rondônia, para tentar resolver o problema dos invasores da fazenda Santa Elina, em Corumbiara, onde, em agosto, 11 pessoas morreram durante ato de desocupação.

Colaborou Agência Folha, em Oriximiná

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