São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Crise bancária reduz confiança no país

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Consultores financeiros de Nova York, Londres e Frankfurt ouvidos pela Folha disseram que a crise bancária no Brasil acendeu uma luz de advertência mas não abalou a confiança do mercado financeiro internacional no Plano Real.
Em uma única voz afirmaram que os investidores externos vêem o Brasil com menos euforia do que há 12 meses, com algumas dúvidas a mais e com uma expectativa "cautelosamente otimista".
Uma preocupação maior do que o eventual agravamento da crise bancária é a lentidão do ajuste fiscal, reformas constitucionais e das privatizações.
Esses fatores, dizem, mantêm a taxa de juros elevada e o real sobrevalorizado, impedindo o crescimento e os investimentos.
Francisco Gros, ex-presidente do Banco Central (governos Sarney e Collor), atualmente diretor responsável pela América Latina do banco Morgan Stanley, de Nova York, disse que o problema do Nacional deixou em dúvida os balanços de bancos brasileiros.
Com relação às medidas tomadas pelo Banco Central, Gros disse que considerou "extremamente positivo" que o governo tenha saído de uma posição de imobilismo.
"Isso é absolutamente essencial. Você não pode ter um sistema financeiro funcionando ao sabor dos boatos", disse.
Walter Molano, do First Boston, de Nova York, disse que a crise recebeu avaliações positivas e negativas em "Wall Street", centro financeiro de Nova York.
A ação do Banco Central foi considerada positiva do ponto de vista macroeconômico. "Deixou claro que o Brasil não repetirá os erros da Venezuela, que, há três anos, ao tentar salvar todo o sistema bancário, criou pressões inflacionárias irreversíveis."
O aspecto negativo foi que a crise levantou dúvidas sobre a saúde de todo o sistema bancário brasileiro. "É uma pena, porque o sistema bancário do Brasil sempre foi visto como muito superior e mais sólido do que os da Argentina, Venezuela e México."
Ele disse que a credibilidade do Real está intacta, mas os investidores substituíram sua "euforia cega" por uma atitude de "otimismo cauteloso".
David Lubin, economista do Midland Bank, banco inglês que recentemente adquiriu uma participação de 6% no Bamerindus, disse que o mercado financeiro de Londres encara o caso Nacional como um episódio localizado e não uma crise do sistema bancário do país.
"O mercado de Londres está preocupado com os efeitos da longa rigidez monetária na saúde da economia como um todo, mas não está pessimista".
Roberto Nemr, analista de mercado da corretora Stephen Rose & Partners, de Londres, disse que a crise bancária no Brasil não abalou a credibilidade do Real nem a credibilidade dos grandes bancos brasileiros na "City", o mercado financeiro de Londres.
"O setor bancário é um dos preferidos de nossos clientes e nenhum deles está vendendo suas ações do Bradesco, Itaú e do próprio Unibanco", afirmou.
Ebehard Schulz, economista do Deutsche Bank, de Frankfurt, concorda. Segundo ele, o Nacional é um caso isolado, que faz parte da tendência de consolidação das instituições financeiras dentro do processo de globalização econômica.

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