São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Líder dos Beach Boys relança seus sucessos

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira vez que o músico americano Briam Wilson enlouqueceu, o mundo estava como nestes dias, rendendo homenagens aos Beatles.
Por coincidência ou fatalidade, Briam retorna agora à indústria do disco com "I Just Wasn't Made for This Times", trilha sonora de um documentário sobre sua vida produzido pelo inglês Don Was, lançado em outubro nos EUA.
Feito para o canal de TV Disney, "I Just Wasn't" tentou resgatar para a música um dos gênios do que se conhece, nos últimos 40 anos, como música pop.
Considerado o Mozart de seu tempo, Wilson foi o fundador, ao lado de dois irmãos, um primo e um vizinho, dos Beach Boys. O grupo ajudou a conceber o mito da Califórnia como a terra de puro hedonismo, praias, surfe e belas garotas em carros conversíveis.
Depois de conseguir se afastar de um pai autoritário, que atuava como produtor e empresário do grupo no começo, Briam assume os Beach Boys como um destino.
Em 66, escreve as canções de sua obra-prima: "Pet Sounds", eleito em 93, pelo semanário britânico "New Musical Express", o melhor disco já gravado.
O disco, lançado no mesmo ano, trazia uma sofisticação em seus arranjos -instrumentais e vocais- que resumia tanto a história pessoal de Wilson -suas digressões sobre a solidão e o amor a Deus- quanto a exigência vanguardista de seu tempo.
Mas essa era a década de 60 e os Beatles preparavam o "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", indo mais além em toda a sofisticação criada por Briam Wilson em "Pet Sounds".
O que se seguiu foi a insanidade e uma tentativa desesperada de tentar convencer o mundo, e a si mesmo, que tinha talento.
Depois de várias internações e quase vinte anos de tratamentos intensivos (Wilson até gravou, nos anos 80, um disco solo em parceria com seu psiquiatra), ele volta com concepções amadurecidas para suas antigas canções.
Em só três dias refez "Caroline, No", "Do it Again" ou "This Whole World" em novos arranjos.
Nas onze faixas, canta com uma voz mais grave, com menos falsetes, letras escritas na adolescência. Criadas em um outro tempo.
Briam lança neste mês um outro trabalho, ao lado do letrista Van Dyke Parks: "Orange Crate Art". E promete para 96 voltar a trabalhar os sucessos dos Beach Boys.
Mas não há em "I Just Wasn't", no entanto, a sensação de algo reciclado, destinado a ser um caça-níqueis de ocasião.
Significa só que Briam, mesmo que de forma dolorosa -ele pode ainda ser considerado clinicamente louco-, está de volta à música.
Briam é um homem que manteve um tipo especial de coerência na vida: as belas canções que afirmam o contrário do título desse disco. Definitivamente Briam Wilson foi feito para nossos dias.

Onde encomendar: Zeitgeist Music (r. 24 de maio, 62, região central, tel. 011/222-8173; preço: R$ 18

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