São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Carreira acaba em grande estilo

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Quando aqui esteve pela última vez, Louis Malle revelou que seu próximo filme seria uma comédia sobre as atribulações existenciais dos anos 40. Ainda bem que mudou de idéia.
"Loucuras de uma Primavera" à parte, o humor não era bem o seu forte, conforme ficou provado no apenas simpático "Zazie Dans le Metro" e, com mais ênfase, no apenas folgazão "Viva Maria". Tanto melhor que tenha optado por um projeto fora de esquadro, como "Tio Vanya". É com ele na lembrança que nos despedimos de Malle -e não com aquele ridículo dramalhão incestuoso, "Perdas e Danos".
Visto hoje, "Os Amantes" é quase tão casto quanto "Marcelino, Pão e Vinho". E quase tão chato quanto "Vida Privada", para citar outro complicado caso amoroso dirigido por Malle. Parte da culpa é dos personagens: há um excesso de pessoas vazias, e por isso desinteressantes, na obra do cineasta. Há exceções, claro: o suicida de "Trinta Anos Esta Noite", sua obra-prima; a incestuosa mãe de "O Sopro no Coração"; o Burt Lancaster de "Atlantic City"; os garotos de "Adeus Meninos"; Milou; a fauna tchecoviana de "Tio Vanya".
Teria sido mais trágico se ele tivesse morrido dez anos atrás. Encerrar uma carreira com "A Baía do Ódio" não seria o fim justo para um artista que, apesar dos pesares, acabaria fazendo com "Tio Vanya" o melhor "teatro filmado" dos últimos tempos.

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