São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Prestando contas ao futuro do país

MARIO CESAR FLORES

A Amazônia é um dos grandes desafios brasileiros da virada do século. Acostumamo-nos a definir como prioritário apenas o que dá retorno social imediatamente sensível, admitidos como social a educação, a saúde, a habitação e uns poucos assuntos mais -como se transporte, energia, segurança etc. nada tivessem a ver com o povo.
Mas o que dirá o povo brasileiro no início do século 21 se, por não termos sabido controlar a Amazônia, nossa soberania sobre ela vier a ser pressionada por ingerência internacional porque a autoridade nacional é julgada fraca diante de seus problemas?
A capacidade de controlar a Amazônia, proporcionando-lhe controle e orientação para um sadio desenvolvimento sustentável, é a melhor garantia que podemos desenvolver para que, no longo prazo, de fronteiras e soberanias controvertidas nos assuntos de interesse planetário, continuemos a exercer nosso direito histórico.
O Sivam não é bastante, mas é importante instrumento desse controle, cabendo-lhe detectar, avaliar e informar o que lá ocorre e fornecer dados para as providências. A não ser que a Amazônia seja considerada irrelevante para o futuro do país e do povo brasileiro, o Sivam é prioritário e sua não-realização será cobrada como dívida imperdoável pelas gerações futuras.
Além de prioritário pelas razões expostas e útil por sua contribuição também social, o Sivam não prejudica outras aplicações. Financiado por recursos externos (inclusive equipamentos e serviços brasileiros), o custo do projeto, US$ 1,4 bilhão (apenas parte disso para o controle do espaço aéreo, objeto de alternativas insatisfatórias ou incertas), é bem menor do que o custo do saneamento de um banco e corresponde a cerca de dois meses de despesas do SUS com assistência hospitalar.
Pagaremos o financiamento em 19 anos com juros privilegiados, a maior parte com 8 de carência; no ápice do pagamento (10º ano), o desembolso anual corresponderá a aproximadamente meio mês da supracitada despesa do SUS. Na quitação final teremos pago US$ 2,7 bilhões (com os juros), mas isso também aconteceria se a despesa de dois meses da Saúde fosse paga em 19 anos e aconteceria sem deixar nada implantado!
O conceito de prioridade neste caso é, de qualquer maneira, inócuo: o financiamento é para o Sivam e se não o fizermos os recursos não virão para outra finalidade.
Em suma: o Sivam é objetivamente prioritário para a integridade, a soberania nacional e para proteção à vida na região com desenvolvimento sustentável (não é esta, evidentemente, a aspiração dos usufrutuários da falta de controle) e, além disso, é inútil pensar em uso "mais prioritário" para os recursos financiados porque não existe essa opção.

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