São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Economistas afastam risco de inflação

SILVANA QUAGLIO

SILVANA QUAGLIO; LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) não deve ter efeito significativo sobre a inflação, segundo economistas ouvidos pela Folha.
A medida só provocará o aumento do dinheiro em circulação na economia (impacto expansionista) se bancos tiverem prejuízo ou se uma massa significativa de poupadores direcionarem seus depósitos para o consumo.
O ex-ministro da Fazenda e vice-presidente do Banco BMC, Mailson da Nóbrega, é um dos que não enxerga perigo de inflação maior por conta do Proer.
"As análises que dizem isso esquecem que toda a liquidez que o BC injetar será neutralizada pela venda de papéis." A dívida pública (títulos em poder do público), diz, pode aumentar. "Mas o dinheiro que sai do BC não volta necessariamente para a economia."
O mecanismo de recolher compulsório sobre os depósitos bancários, segundo lembra Nóbrega, provocou a redução da necessidade de emissão de dívida. Esse sistema criado para tirar dinheiro da economia já começava a ser desmontado pelo governo.
"É melhor devolver o compulsório para evitar uma crise bancária do que como vinha fazendo."
O presidente da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Juarez Rizzieri, também não acha que a solução do BC para a quebra dos bancos possa provocar uma alta da inflação. "O que pode aumentar é a dívida pública, por conta da necessidade de emissão de títulos federais", diz Rizzieri.
Essa emissão seria necessária para "enxugar" uma eventual emissão de moeda, que ocorreria para sanear os bancos.
Para o economista e consultor Flávio Nolasco, ninguém ainda conhece a real demanda do sistema financeiro pelo Proer. " O BC vai tentar administrar esse processo e pode ser feliz", avalia.
Um ponto negativo, segundo ele, seria a exigência de maior liberdade monetária sem que o governo tenha conseguido maior flexibilidade do lado fiscal.
Ele afirma que o superávit fiscal só será alcançado a partir de uma reforma administrativa que redistribua os gastos entre as esferas de governo e promova cortes no número de funcionários públicos.
Já o consultor Gil Pace considera que o Proer não será o responsável, mas será um componente de um aumento da inflação que será experimentado a partir de abril.
"Na análise que distribuímos aos nossos clientes, avaliamos que a inflação ficará entre 35% e 40% no ano que vem", afirmou Pace. "Não acho uma catástrofe. Não é alta para um país que não fez reforma estrutural alguma", disse.

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