São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 1995
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Não adianta ser só bonito

ARNALDO NISKIER

Ainda recentemente travei polêmica com um diretor de teatro a propósito de uma peça em que se procurava resgatar o "lado humano" de Adolf Hitler. Pelo menos essa tinha sido a intenção confessada em entrevista, na televisão, pelo ator Osmar Prado.
Tamanha barbaridade não poderia passar sem uma condenação tácita, que foi o que fiz. Certas pessoas, que passam por "boazinhas", estranharam a minha crítica, elogiando a peça, que não vi.
O que verberei com energia foi a declaração do excelente ator, que pisou feio na bola. Não me interessa se foi por ingenuidade ou ignorância, o fato é que Hitler foi um monstro -e nada nele merece qualquer elogio ou ressalva sob qualquer pretexto.
Pois agora parece outro ator, Victor Fasano, por quem as mulheres suspiram, e dá uma inacreditável entrevista nas páginas amarelas da revista "Veja". Ninguém tem nada a ver com as suas opiniões sobre homossexualismo ou o próximo "acasalamento" com a linda Maitê Proença. Onde ele sai da pista -e bate feio- é quando elogia "certas idéias excelentes de Hitler, sobre a pureza da raça":
"Algumas idéias nazistas são excelentes, como a de que não se deve misturar sangue puro com sangue não puro, como se faz com os animais", diz o galã, do alto da sua manifesta ignorância.
Ora, Hitler não criou nenhuma diferença entre homens e animais. Suas experiências de purificação da raça foram genéricas, significando a morte de mais de 20 milhões de pessoas, entre as quais seis milhões de judeus.
Por que os judeus foram assassinados nos campos de concentração e de extermínio?
Em nome de uma idéia estúpida de purificação da raça, o que representou também o sacrifício de milhões de crianças. Pode existir algo mais desumano e condenável? O parlamentar carioca Gerson Bergher fez muito bem ao protestar contra o que acertadamente chamou de ignomínia:
"Incrível que Hitler, 50 anos após seu suicídio, seja modelo para Victor Fasano. Todos nós temos a obrigação de fazer prevalecer a verdade histórica de um monstro."
É também a minha opinião. Fasano não poderia ter elogiado as "excelentes idéias de Hitler" sem ter citado seus crimes contra a humanidade. Ou ele não é capaz de ter idéias próprias e escolheu as muletas com que se colocou na indigitada entrevista?
O que aconteceu com Victor Fasano, de forma lamentável e até um pouco cínica, é a comprovação, mais uma vez, de que não basta ser só bonito. Se o indivíduo pensa que a beleza lhe garante indulto, está equivocado. Sua opinião o coloca no palco das figuras lamentáveis da cena artística.

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