São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Álcool, Petrobrás e política econômica

LUIZ PINGUELLI ROSA

Está em discussão a viabilidade econômica do álcool como substituto da gasolina nos motores do ciclo Otto. Aos custos atuais, o da gasolina é menor. Logo, o álcool não compete com ela no livre mercado. O custo da gasolina é de US$ 22/barril, pelo critério do custo do derivado médio do petróleo (inclui GLP, gasolina, diesel, etc) que usei aqui no último artigo. O custo de produção do álcool está muito acima, sendo mais caro no Nordeste em geral.
Tomando o álcool anidro, adicionado à gasolina, a Petrobrás o compra por cerca de US$ 62/barril no Sudeste. Na sua venda para distribuição, apura cerca de US$ 33/barril. Portanto, a Petrobrás fica com um prejuízo de US$ 29/barril, insustentável.
Entretanto, o preço da gasolina, incluindo nela o álcool anidro como aditivo, para o consumidor final supera US$ 100/barril, sem impostos. Mas cabe à refinadora uma fração muito pequena desse valor, como se vê. Assim, ela acumula uma perda superior a US$ 1 bilhão, insustentável. Isso inviabiliza o álcool e a Petrobrás, matando dois coelhos com uma paulada liberal só.
Para formular a solução do problema, considere-se agora a diferença do caso do álcool hidratado, usado nos carros a álcool ainda existentes, puro ou, desde a crise de desabastecimento de 1989/90, em mistura com gasolina e metanol. Uma parte do álcool é importada. Seu preço ao consumidor final, sem impostos, é de cerca de US$ 89/barril, abaixo da gasolina. Entretanto, vão remunerar o produtor de álcool US$ 58/barril, cobrindo seu custo, um pouco inferior ao do anidro.
Portanto, uma solução é adequar a remuneração da Petrobrás no álcool anidro aditivado à gasolina, para que ela possa pagar aos produtores de álcool sem ter prejuízo.
A fórmula é simples. Mantém-se a gasolina com o preço acima da média dos derivados do petróleo, compensando o GLP, o diesel e o óleo combustível abaixo da média. Isso permitirá remunerar o custo do álcool anidro aditivado a ela, desde que se diminua a margem hoje retida pelos postos e pelas distribuidoras, muito acima do padrão internacional, e se aumente a remuneração da refinadora, como no resto do mundo.
Faltam planejamento econômico e política energética, pois isso contrariaria a orientação liberal dada à economia. Mas esta já está abalada com os bilhões de dólares do Tesouro para salvar bancos privados e promover fusões entre eles. Trata-se de desmistificar a eficiência privada e a competição. Tudo isso mostra a falácia da economia sem o papel do Estado.
Voltando aos combustíveis, é um erro o embate Petrobrás versus álcool, induzido pelo absurdo da situação atual. O álcool é renovável, não contribui para o efeito estufa, gera empregos em uma época de desemprego estrutural. As vendas de carros novos a álcool caíram de 90% em 1985 para menos de 10% em 1995.
O álcool não sobreviverá sem uma política de combustíveis, fortalecendo a Petrobrás como um de seus instrumentos eficazes. Sem ela, não teria sido iniciado o Proálcool.
Agora, deve-se equilibrar a estrutura de refino e de consumo de derivados, com o gás natural e o álcool, cujos custos têm de baixar e cujo uso não deve ficar restrito aos automóveis, mas substituir em ônibus, caminhões e tratores o diesel, que é um gargalo no refino.

Texto Anterior: Uma relação simbiótica
Próximo Texto: Empresários investirão US$ 6 bi no México
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.