São Paulo, sexta-feira, 1 de dezembro de 1995
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Empresário confirma extorsão por deputado

EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O empresário Valdomiro Garcia Júnior, dono do bingo Liberty, de São Paulo, confirmou ontem na CPI dos Bingos que o deputado Marquinho Chedid (PSD-SP), membro daquela comissão, extorquiu US$ 300 mil dele.
Durante o depoimento, era visível a tentativa de alguns deputados em tentar intimidar Garcia. A conduta da própria presidente da CPI, Zulaiê Cobra (PSDB-SP), contribuiu para esse clima.
Em alguns momentos, a sessão da CPI parecia um tribunal de inquisição. Deputados ligados a Chedid se dirigiam a Garcia de forma desrespeitosa. Os mais exaltados eram os deputados Eurico Miranda (PPB-RJ) e Vicente André Gomes (PDT-PE).
Os dois também estão envolvidos na denúncia de extorsão. Miranda praticamente não deixava Garcia falar. Gomes se dirigia a ele com o dedo em riste. "O senhor denegriu homens dignos", afirmou. "O senhor tem cara de homem, mas não é um cidadão."
Garcia chegou a ser acusado pelo pedetista de "corrupto" e "testa-de-ferro" do bicheiro Ivo Noal.
Zulaiê ouvia tudo sem interferir. Valdomiro Meger (PPB-PR) foi o único a reclamar da conduta dos parlamentares. "Nunca vi uma coisa tão arbitrária como a que estou vendo aqui", disse Meger.
"O depoente está sendo ameaçado", afirmou. Aos gritos, Miranda mandou Meger se calar por não ser membro da comissão. "Aqui falam os membros, depois os suplentes e por último os que não integram a CPI", disse.
Outro lado
Chedid acompanhou o depoimento sem se manifestar. Cochichava a Gomes alguma coisa antes das intervenções do pedetista.
Antes da sessão da comissão, havia afirmado que a acusação de Garcia faz parte de um complô dos donos de bingos para desmoralizar as investigações da CPI.
Garcia confirmou que o pagamento da primeira parcela dos US$ 300 mil foi feito no último dia 10, após depor à CPI. A segunda parcela seria entregue ao final dos trabalhos da comissão.
Segundo ele, a propina tinha dois objetivos. Um era facilitar seu depoimento na comissão. O segundo era manter seu bingo aberto. O dinheiro foi entregue ao advogado Francisco José Franco, intermediário de Chedid na negociação.
Garcia também confirmou que foi pedido a ele inicialmente US$ 1 milhão. Houve negociação com o advogado para que esse valor fosse reduzido.

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