São Paulo, sábado, 2 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rotina da PF contradiz depoimento de Chelotti

Agente afirma que Polícia Federal não desgrava fitas

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A PF (Polícia Federal) registra denúncias anônimas em livro de ocorrências, possui aparelhos Bina para identificar a origem de ligações telefônicas e não se desfaz das fitas originais de gravações "grampeadas".
Esses detalhes sobre a rotina de trabalho no órgão foram contados ontem à Folha por dois agentes federais que pediram para não ser identificados. Eles temem punições como abertura de sindicância interna e inquérito disciplinar.
Os detalhes revelados pelos agentes se chocam com as informações prestadas pelo diretor-geral da PF, Vicente Chelotti, sobre o "grampo" instalado no telefone do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, ex-chefe do cerimonial do Planalto.
Em ofício ao ministro Nelson Jobim (Justiça), Chelotti informou que a PF "não possui serviço especializado para recebimento e registro de denúncias anônimas, inexistindo normas que disciplinem a matéria".
Segundo os agentes, realmente não há serviço especializado para receber denúncias anônimas por telefone. Mas é prática comum o policial registrar no livro de ocorrências qualquer denúncia anônima recebida por telefone e identificar sua origem pelo Bina.
Segundo o ofício de Chelotti, o CDO não possui aparelho Bina, razão pela qual o delegado Mário José de Oliveira Santos, ex-chefe do setor, não identificou a origem das ligações anônimas sobre narcotráfico contra Júlio César.
Os agentes consideram inacreditável que o CDO não possua Bina, já que a PF têm esses aparelhos na sede e nas superintendências estaduais. O CDO foi criado há seis anos com recursos dos EUA.
Mesmo que o CDO não possua o Bina, os agentes afirmam que o delegado poderia pedir para o informante ligar ao telefone onde o aparelho está instalado. Disseram que Mário José sabia desse procedimento por ser oriundo da área operacional da Divisão de Repressão a Entorpecentes.
Eles disseram que o aparelho Bina da Superintendência da PF em Brasília fica na mesa dos telefones da recepção. O CDO, para onde foram feitas as ligações anônimas, funciona na mesma área da superintendência.
Um dos agentes disse não acreditar na versão contada pelo delegado e pelos agentes Cláudio Mendes e Paulo Chelotti, envolvidos no episódio do vazamento, de que a escuta foi solicitada à Justiça a partir das denúncias anônimas.
Isso porque, segundo o agente, ninguém interessado em denunciar tráfico de drogas liga diretamente para o CDO. Até porque só quem trabalha no órgão sabe da existência desse setor voltado ao combate do narcotráfico.
Um agente disse que as fitas originais das gravações de escuta telefônica não são desmagnetizadas. Ficam no próprio CDO, que possuiria aparelhos mais sofisticados de escuta do que o gravador com um fio de extensão apresentados pelo delegado na Câmara.
Eles não acreditam que as fitas originais sejam vazadas se houver alguma conversa comprometedora do embaixador com FHC.
Segundo os agentes, FHC goza de bom conceito na categoria por não ter derrubado o aumento salarial de 200% em maio deste ano.

Texto Anterior: Relatório aponta irregularidade no DNAEE
Próximo Texto: Sem-terra e a Globo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.