São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Punir pelo voto

Na política, assim como na saúde, as ações preventivas são em geral mais eficazes e duradouras do que as medidas curativas, embora estas continuem sendo imprescindíveis em situações emergenciais.
Instalada para averiguar a destinação legal das arrecadações dos bingos aos clubes esportivos, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) recebeu denúncias de que pelo menos dois de seus integrantes teriam praticado extorsão contra empresários do setor em São Paulo.
Se comprovadas as irregularidades, é claro que a chaga deverá ser curada com a imediata cassação dos mandatos dos parlamentares.
O caso encerra, porém, duas contradições. Primeira: praticam irregularidades justamente os que foram designados para combatê-las. Segunda: os acusados têm ligações históricas com o esporte. Seria de se esperar que preservassem os interesses dos clubes e entidades aos quais, por lei, os bingos têm que transferir parte de seus ganhos.
Distorções tão gritantes apenas escancaram, na atual representação brasileira, um divórcio acentuado e inquietante entre determinados políticos e a população a quem deveriam representar.
Mas não somente isso. Em que pese a inegável importância de canais regulares de investigação, como as CPIs, tudo indica que o instrumento mais eficaz e preventivo para o saneamento moral das casas legislativas continua sendo, antes de tudo, o voto.
O desafio maior está na formação de uma cultura política que evidencie para o eleitor a importância de seu voto e sua dupla função: ora delegar representação, ora punir.

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