São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995
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Festivais abrem temporada 96

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O circuito 95 dos festivais nem acabou, com Havana ainda a pleno vapor, e já esquenta as turbinas o de 1996. Três dos principais eventos cinematográficos do início do ano (Sundance, Roterdã e Berlim) revelam suas atrações especiais.
Meca do cinema independente americano, o Festival de Cinema de Sundance inaugura a ciranda, entre 18 e 28 de janeiro, em Park City, Utah (noroeste dos EUA). Um total de 115 títulos promete apresentar os novos Soderberghs, Hartleys e Tarantinos. Um terço dos filmes participam das duas competições oficiais, exclusivas para produções americanas.
A grande retrospectiva do Sundance-96 vai homenagear o centenário de nascimento de William Wellman (1896-1975), artesão de extensa e variada filmografia. Wellman assinou do primeiro filme a levar o Oscar ("Asas", de 1929) ao policial que consagrou James Cagney ("Inimigo Público", 1931), da primeira versão de "Nasce Uma Estrela" (1937, valendo-lhe seu único Oscar próprio, pelo roteiro) ao clássico "Beau Geste".
Em matéria de William, Berlim-96 (15 a 26 de fevereiro) não quis ficar atrás: escalou William Wyler (1902-1991) para a principal retrospectiva. Se o Oscar fosse um bom termômetro, Wellman perderia longe para Wyler. Ao isolado prêmio do primeiro, contrapõem-se as 127 indicações e 38 vitórias dos filmes dirigidos pelo segundo, que emplacou nada menos que três dobradinhas para melhor filme e diretor ("Rosa da Esperança", de 42, "Os Melhores Anos de Nossas Vidas", de 46, e "Ben-Hur", de 59).
Reiterando sua recente reconversão ao hollywoodismo, o principal festival alemão concede o Urso de Ouro pela carreira a Elia Kazan, 86. Kazan foi um dos raros renovadores do teatro americano a se transferir com igual impacto para o cinema, assinando títulos obrigatórios como "Sindicato de Ladrões", "Vidas Amargas" e "Uma Rua Chamada Pecado". A homenagem berlinense resgata a real dimensão de Kazan, estigmatizado desde seu depoimento ao tribunal macartista em fins dos anos 50.
Pouco antes de Berlim, entre 24 de janeiro e 4 de fevereiro, Roterdã celebra sua 25ª edição piscando ao mesmo tempo para o passado e o futuro. A grande retrospectiva reúne todos os 41 filmes exibidos durante o primeiro festival, em 1972. Lado a lado, eis apostas que vingaram (Fassbinder, Wenders, Saura) e diretores que despontaram para o anonimato (Jimmy Vaughan, Joel Santoni), numa saudável mostra autocrítica.
Equilibrando a balança, o ciclo "Cinema em Explosão" ilustra os novos horizontes abertos para a produção e distribuição de filmes pelas tecnologias de ponta. O centro será o Salão Digital, onde será possível experimentar CD-ROMs baseados em filmes, visitar instalações interativas de diretores como Raul Ruiz e Chantal Akerman, e surfar na Internet numa preview do primeiro festival em rede previsto para o final de 96. Na aurora do segundo século do cinema, Roterdã decepciona apocalípticos e prova que o futuro é hoje.

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