São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995
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Drag queens invadem meio intelectual de NY

Taboo é também uma pintora cultuada nos EUA

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto a grande massa no Brasil começa a ter intimidade com drag queens, graças à inclusão da drag Sarita Vitti (leia texto abaixo), personagem interpretado por Floriano Peixoto na novela "Explode Coração", nos EUA, elas dão sinais de avanço.
Não só por RuPaul, primeira drag queen a alcançar notoriedade, mas também devido a filmes como "Priscilla, a Rainha do Deserto", "Too Wong Foo -Obrigado por Tudo! Julie Newmar", "Wigstock" e ao recém-lançado livro, "Drag Culture", uma espécie de diário de drags famosas.
Segundo pesquisa publicada na revista "New York", as drag queens movimentam cerca de US$ 30 milhões só nos EUA, entre filmes, publicidade, livros e linhas de produtos de maquiagem como a canadense Mac.
Em Nova York, uma drag já transgride os limites da montação e se consagra nos meios intelectuais da cidade.
É Taboo, 37, que além de performer, é conhecida como pintora. Seus quadros fazem parte do acervo de gente famosa como Elton John e Gianni Versace.
Taboo, ou Stephen Tashs Jian, seu nome verdadeiro, não se considera uma drag intelectual. De origem armênia, chegou em Nova York aos 20 anos e mudou seu nome para Taboo, "um nome pop próprio para o showbizz".
Aprendeu a profissão com drags mais velhas: "Ser drag é uma arte e isto é passado de geração para geração. É uma coisa cultural, uma tradição gay clássica em Nova York", conta Taboo em entrevista por telefone de seu estúdio em Nova York.
Taboo percebeu sua aptidão aos cinco anos quando criava e interpretava os diversos personagens para suas inúmeras bonecas: "Fazia todas as vozes. Interpretar ambos os sexos faz parte da arte de ser drag. Ser drag é atuar, fazer performances. Não tem um aspecto sexual e sim, teatral", explica.
Quando começou a frequentar a noite gay nos clubes de Nova York, entendeu que a única diversão em termos de performances para um público tão específico eram as drag queens.
Segundo Taboo, a explosão do movimento drag ganhou apoio da mídia nos EUA nos anos 90: "Agora existem canais de TV dedicados às drags, é um novo filão para eles saber lidar com toda esta fantasia. Todas as drags da minha geração, RuPaul, Lady Bunny, Mistress Formika, somos nossos próprios personagens, não interpretamos ninguém, aí está nossa força. Nos anos 70 as drags imitavam atrizes como Mae West ou Joan Crawford ou Cher. Hoje não imitamos ninguém".
Nos anos 60, trabalhar de drag podia levar a prisão. O movimento gay nos anos 90 ajudou as drags a sair do gueto: "Durante anos se pretendeu que os gays não existiam. Agora muita gente está saindo do armário, incluindo políticos e artistas. Por isso se fala tanto nas drags e se fazem tantos filmes sobre gays. Só que são filmes feitos pela comunidade heterossexual falando dos gays É como Hollywood fazendo um filme sobre o Brasil. O resultado é duvidoso".
Taboo começou a pintar quando adolescente, ao mesmo tempo em que investiu na sua carreira de drag. Hoje expõe suas telas em acrílico e em óleo em cidades como Nova York, Boston, Califórnia e também na Europa.
No mês passado, expôs em Nova York onde vendeu a maioria de seus quadros: "Penso de maneira realista, pinto naturezas mortas, faço retratos . Neste aspecto, sou bastante clássica, mas ao mesmo tempo, gosto muito de cores. É o meu lado drag que aparece na minha pintura ".
Entre seus trabalhos recentes, está a criação da capa do último disco do trio Deee-Lite, "Drewdrops in the Garden" e sua participação no filme "Wigstock", cantando sua composição, "It's natural": "Não acredito que Wigstock como evento tenha conotações políticas. É uma celebração gay, é a festa da peruca. Mas ser você mesmo em público é um ato político, especialmente aqui nos EUA."
Taboo também posou de cabeça raspada para a fotógrafa americana Nan Goldin, expoente da estética do mau gosto e conhecida por documentar o universo underground dos EUA e Japão: "Ela é o tipo de fotógrafa que se envolve nos assuntos que fotografa e os documenta. Ela traz à tona uma comunidade pouco conhecida do público. Por isso admiro seu trabalho".

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