São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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ONU sugere menos Incra e mais reforma

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mais novo relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) sobre a questão da terra na Brasil sugere com "certa urgência" a descentralização dos poderes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para que o campo se desenvolva por meio da "agricultura familiar".
Por "agricultura familiar", leia-se reforma agrária. A FAO recomenda mudanças no perfil fundiário do país e "mais eficiência" na condução dessa alteração.
Relatório da FAO de 1992 já apontava melhora na qualidade de vida dos assentados até agora por meio de ações, mesmo pulverizadas e precárias, de reforma agrária.
No novo texto, concluído em 1994, a FAO aponta a existência de 300 milhões de hectares nas mãos de grandes produtores rurais.
"Isso engendra forte concentração de renda e exclusão social", diz o estudo. O Brasil tem 850 milhões de hectares.
Um dos dados mais importantes do estudo trata do aspecto institucional da reforma no campo. "Órgãos como o Incra não poderão continuar assumindo todas as atividades que ainda possuem como atribuição", sugere a FAO.
Segundo o relatório, a política de assentamentos pode ser agilizada se a implantação de obras e o monitoramento dos assentamentos ficarem a cargo de Estados e municípios. A União atuaria apenas no "estritamente necessário".
A FAO diz também que deve ser extinta a diferenciação entre assentamentos estaduais e federais e incentivadas união entre agricultura familiar e agroindústria.
Em suma, o órgão da ONU sugere que ao governo federal deve caber a tarefa de obter terra e crédito.
Aos governos estaduais caberia dar assistência técnica e monitorar os assentamentos. Os municípios deveriam implantar a infra-estrutura básica e fornecer serviços diretos de assistência.
A proposta da FAO combina com a política do Incra iniciada na gestão de Francisco Graziano, afastado do cargo em razão do escândalo telefônica de um auxiliar do presidente da República.
O órgão da ONU reconhece que a reforma agrária é um dos temas mais polêmicos da agenda política brasileira, mas reafirma sua necessidade: "Tem imenso potencial gerador de empregos".
A função do ITR
A FAO rechaça a idéia de que o ITR (Imposto Territorial Rural) seja suficiente para reformar o campo, como pensam alguns setores da sociedade.
"É um instrumento complementar. A tributação nunca será um substituto da reforma agrária, mas é um pré-requisito indispensável ao seu êxito", diz o relatório.
É recomendada a transferência seletiva do ITR para os municípios, principalmente aos mais populosos e bem aparelhados.
A municipalização do tributo permitiria maior controle social do pagamento, ainda que a influência dos grandes proprietários rurais nas prefeituras seja grande.
O ITR deveria ser simplificado (com alta alíquotas vinculadas apenas à localização e ao tamanho do imóvel) para permitir maior fiscalização do governo sobre os pagamentos, com apoio dos institutos de terras estaduais.
O relatório diz que há uma tendência de as prefeituras desejarem ter assentamentos de reforma agrária ("por causa do desenvolvimento econômico que acarretam") e que isso pode influir na negociação sobre maior participação dos municípios.

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