São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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Assentamentos são falhos, diz o Incra

Para órgão, só 10% deram certo

DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas 10% dos assentamentos de reforma agrária ao Brasil deram realmente certo, segundo o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O órgão, porém, relativiza os fracassos e coloca como um dos fatores a implantação de projetos em terras infertéis, ou com solo ruim.
"O Incra tem agido muito em função da pressão social. Ocorrem invasões em locais de terra fraca, e as famílias acabam sendo assentadas ali", disse Alceu Fernando Azevedo, 51, da diretoria de assentamentos do Incra.
Mesmo assim, Azevedo ameniza o insucesso. "Todas as famílias estão em melhores condições do que estavam antes, na cidade ou mesmo no campo. Por esse aspecto, os assentamentos deram certo", afirma o técnico do Incra.
Nos 1.005 assentamentos de reforma agrária vivem 254 mil famílias, segundo ele, ocupando 23 milhões de hectares. O tamanho médio dos lotes é de 52 hectares -incluída a região amazônica, onde os lotes são maiores.
Há ainda 49 assentamentos de colonização, que tiveram por objetivo ocupar vazios do país, principalmente na região Norte. Foram efetuados em grande maioria pelo regime militar (1964-1985).
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o próprio Incra não consideram essas colonizações como sendo de reforma agrária -no sentido de funcionar como reengenharia da distribuição de terras.
Produtividade
Segundo relatório da FAO (Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) sobre a safra 91/92, a produtividade dos assentamentos por hectare plantado é inferior às médias regionais e nacionais.
Nas últimas décadas o campo se modernizou e os assentamentos estão atrasados. A FAO ressalva que os assentamentos são recentes no país. O próprio Incra considera projetos de reforma agrária só os assentados após o advento da "Nova República" (1986).
A produção de feijão do país em 1991/92 foi de 2,9 milhões de toneladas. Os assentados contribuíram com 2,8% desse total. Na produção de milho e arroz, a participação dos assentados variou de 0,8% a 1,68%.
Hoje, o Incra não sabe o quanto realmente os assentamentos produzem e está iniciando um censo.

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