São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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Pesquisa aponta enfraquecimento da ação da cidadania contra a fome

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisa sobre a atuação e os efeitos da Ação da Cidadania Contra a Fome e pela Vida revela que a campanha vem perdendo fôlego no país.
O levantamento mostra os obstáculos enfrentados para manter o ritmo inicial e traz sugestões para revitalizá-la e torná-la permanente.
Entre as causas do esvaziamento aparecem problemas de planejamento e divulgação, dificuldades de parceria com a iniciativa privada e a fragilidade dos próprios comitês -muitos só funcionaram em função de ações emergenciais.
A campanha Ação da Cidadania surgiu em 1993, idealizada pelo sociólogo Hebert de Souza, o Betinho.
A pesquisa sobre a mobilização em torno da campanha foi feita em cinco grandes cidades: São Paulo, Recife (PE), Belém (PA), Porto Alegre (RS) e Brasília (DF). Teve apoio da Fundação Ford e buscou reconstituir a ação desde 1993.
A pesquisa revela, entre outros itens, o perfil dos beneficiados, a maioria mulheres analfabetas ou semi-analfabetas, com renda inferior a um salário mínimo.
Outro dado aponta que a distribuição de alimentos e roupas é a principal referência entre 70% dos beneficiados pela campanha. Suas expectativas voltam-se também para o emprego e a continuidade da distribuição de comida.
"Hoje, São Paulo e Recife são as cidades onde, pela pesquisa, a campanha ainda tem mais vigor", diz Pedro Jacobi, 45, professor de Educação da USP e vice-presidente do Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea).
Jacobi consolidou a metodologia da pesquisa. Os números são só indicativos para ampliar a campanha, para que ganhe nova força e não dependa só de voluntários.
Apesar a tendência de desmobilização que a pesquisa aponta (veja quadro), Jacobi afirma que houve avanços, porque pela primeira vez a sociedade se preocupou ativamente com o direito à cidadania, "enfrentando a retórica".
"A pesquisa mostra que há parcelas da sociedade mobilizadas, que desejam manter a campanha viva, que entendem a questão da miséria não como modismo", diz.
O relatório final da pesquisa afirma que o momento de impacto ocorreu em 1993, quando a campanha surgiu como novidade.
Entre os problemas que concorreram para a retração da opinião pública foi, segundo o relatório, a introdução de novos temas, como "Geração de Emprego e Renda"(1994) e "Democratização da Terra" (1995). Isso teria contribuído para maior desconcerto de comitês ainda mal consolidados.
Pela pesquisa, Belém e Porto Alegre, onde a campanha esteve muito concentrada em órgãos oficiais, a desmobilização foi maior.
O relatório apresenta entre as sugestões o fortalecimento da visibilidade da campanha na mídia, a profissionalização de coordenadores e ampliação das parcerias com a iniciativa privada.
"A campanha não resolve a fome no país, mas ajuda. A solução virá do poder público, embora a maior preocupação do governo hoje seja apenas a estabilização econômica", diz Jacobi.

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