São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Wal-Mart faz sucesso com publicidade boca a boca

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um agressivo investimento publicitário é um dos pilares para o sucesso de vendas de produtos que envolvam grande parte da população. Certo?
Nem sempre. A Wal-Mart, rede de varejo que inaugurou dois hipermercados no mês passado, está mostrando que não é preciso anunciar fortemente na mídia para garantir lojas cheias e filas em suas caixas registradoras.
"A Wal-Mart tem uma excepcional estratégia de marketing. Com pouco dinheiro, conseguiu colocar na cabeça do consumidor que tem preço baixo e qualidade", diz o publicitário Sérgio Amado, da Denison.
Para Amado, o sucesso da Wal-Mart se deve a uma informação verdadeira (preços baixos), que corre de boca em boca.
"Para ganhar mercado, a empresa optou por jogar o preço lá embaixo e criar um hábito de consumo. É uma estratégia bem pensada, que optou por não anunciar frequentemente na mídia", diz o publicitário Celso Loducca, da Lowe, Loducca.
Loducca estima que, para conseguir tal sucesso de público, a empresa teria de investir entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões em comunicação por ano.
A Wal-Mart, cujas campanhas são feitas pela Norton Publicidade, não divulga sua verba de marketing. A empresa informa apenas que a estratégia é manter custos operacionais baixos para conseguir vender barato.
Pela interpretação do mercado, as campanhas são vistas como um custo a mais.
A verba é pequena. A Folha apurou que, no final do ano passado, uma grande agência de publicidade de São Paulo recusou-se a participar do processo de seleção da conta por julgá-la muito baixa.
"A Wal-Mart nunca foi um grande anunciante nos países em que atua", diz Antônio Fadiga, presidente da Young & Rubicam.
Recentemente, a Nestlé acusou a empresa de estar vendendo produtos abaixo do custo, o que reforçou o marketing da Wal-Mart.
"O episódio passou para o consumidor a idéia de que, se até o fornecedor reclama, é porque o preço deve ser bom", diz Alexandre Gama, vice-presidente da Almap/BBDO.
Para Gama, a empresa conseguiu criar um fato e virar notícia, sem precisar de anúncios. "E isso é sensacional e legítimo", diz.
Mudança
O mercado publicitário ainda evita afirmar se a postura da empresa provocará mudanças nas campanhas de varejo. "É uma tática de entrada no Brasil, mas ainda não sabemos qual é o fôlego da empresa", diz Gama.
Loducca diz que a dúvida, no mercado, é saber por quanto tempo a empresa vai conseguir manter preços mais em conta.
"A médio prazo, a Wal-Mart deverá optar por uma campanha institucional, o que deve significar mais anúncios", diz.
Fadiga, da Y&R, lembra que as campanhas de varejo não correm o risco de acabar, com todos seguindo a estratégia da Wal-Mart.
"Se todos fizerem o mesmo, logo uma empresa vai precisar se diferenciar e volta à mídia", diz o publicitário.
Luiz Lara, presidente da Lew, Lara, Propeg, acredita que os preços mais em conta são apenas parte do "truque de lançamento".

Texto Anterior: Um novo astro na propaganda
Próximo Texto: Publicitário discute valor de prêmios
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.