São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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Juras

Autoridades do governo vêm insistindo na viabilidade de se reduzirem os juros no ano que vem. As declarações mais recentes vieram do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros.
A retórica não é original, mas as autoridades monetárias têm operado com extrema cautela.
Durante muito tempo se argumentou que reduzir juros seria temerário pois o mercado não aceitaria financiar o governo ou porque haveria fuga de capitais. Esse quadro já começa a mudar. Na semana passada os futuros indicavam expectativas de queda mais rápida dos juros, que o BC afinal recusou.
Cabe indagar se o gradualismo dessa política de juros não é exagerado. Pois, se no passado os juros elevados alimentavam uma ciranda financeira doméstica, o governo vem dando trela nos últimos meses a uma discutível ciranda "global".
A crítica, sublinhada em artigo do deputado Delfim Netto nesta Folha, alerta para a hipótese de que até mesmo parte das reservas brasileiras, depositadas em bancos no exterior, estejam sendo "reinvestidas" no mercado local. Tal procedimento implicaria numa recorrente dupla contagem das reservas em poder do BC.
Mais ainda, nas últimas semanas o Banco Central tem usado dos mais diferentes subterfúgios para estancar a especulação globalizada com juros brasileiros, indo dos malabarismos regulatórios à mais deslavada pressão direta sobre operadores de mercado. Seria muito mais fácil simplesmente reduzir os juros e matar na raiz o que se configura como oportunidade insustentável de ganhos de arbitragem.
As autoridades, entretanto, por enquanto apenas prometem juros menores num futuro mais distante. É importante alertar para os custos que a cautela excessiva pode ter para as próprias contas públicas.

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