São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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A dúvida do crescimento

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - O ministro Pedro Malan (Fazenda) estima que o PIB brasileiro -toda riqueza produzida no país- crescerá 4% no próximo ano. Empresários têm a mesma opinião.
Só que dentro do próprio governo, reservadamente, alguns economistas não acreditam nessa estimativa considerada otimista. Se é que se pode chamar um crescimento de 4%, num país com desemprego em alta, de previsão otimista.
Estes economistas traçam um cenário nada animador, no qual o PIB cresceria no máximo 2% em 1996. O motivo desta previsão é o rombo das contas públicas, que nesse ano deve ficar acima dos R$ 30 bilhões.
Na avaliação dessa turma, se o déficit público continuar existindo em 96, o governo será obrigado a manter a atual política de combate à inflação. Ou seja, mais um ano de juros altos, arrocho no crédito e dólar desvalorizado.
O pior é que a saúde das contas públicas no próximo ano é uma grande incógnita. Ainda não se sabe quando o Congresso aprovará as reformas previdenciária e administrativa, fundamentais para qualquer política de redução de gastos tanto na União como nos Estados e municípios. E nem como elas serão aprovadas e se terão algum efeito imediato.
Outra grande interrogação é a capacidade e a disposição dos governadores e prefeitos em adotar políticas austeras para tapar o rombo de seus Orçamentos. Para complicar, teremos eleições municipais no próximo ano.
Esta avaliação não está apenas dentro do governo. Pode ser ouvida no mercado e até de parlamentares que entendem do assunto e não têm nenhum motivo para ficar alardeando previsões negativas.
O deputado Antônio Kandir, por exemplo, diz acreditar que o país terá um "crescimento lento, perto de 2%" no próximo ano. Ele também prevê que a deterioração das contas públicas poderá forçar esse ritmo lento.
Caso o país realmente não tenha o crescimento previsto por Malan, o ministro da Fazenda pode se preparar para enfrentar uma artilharia pesada. Este ano, com o PIB devendo crescer 4%, ele já foi bombardeado de todos os lados. Se crescer só 2% em 96, pode acabar sendo abatido. E o tiro mortal pode até não vir do inimigo, mas de aliados.

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