São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A falsa notícia

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso planeja promover uma reforma ministerial. A notícia, largamente difundida nos últimos dias, possui duas características antagônicas.
A primeira: é tão falsa quanto um bom escocês destilado no Paraguai. A segunda: repetida à exaustão nos corredores do Congresso, pode transformar-se em verdade.
A reforma ministerial é filha do cruzamento do tédio jornalístico com o interesse parlamentar. Um jornalista entediado, à cata de informação, ouve de um deputado interessado: "É preciso reformar o ministério".
No dia seguinte, o comentário ganha status de notícia em uma página de jornal. Outro deputado o lê e, em diálogo com um segundo jornalista, diz: "A reforma tem de vir até março".
Súbito, o mundo clama por uma reforma. Fala-se da troca de ministros com intimidade hedionda. É como se a reforma fosse uma prima querida, uma tia amada, um Giovanni do Santos.
O passo seguinte é a discussão de nomes. O ministro "a", que bem pode ser Dorothéa Werneck, deve ser substituído pelo deputado "b", alguém como Francisco Dornelles. O "y", Adib Jatene, deve dar lugar ao "z", Sérgio Arouca. E assim vai.
Ainda em sua fase paraguaia, o processo de criação da reforma levanta falsos problemas. Exemplo: o relacionamento do Planalto com o Congresso está emperrado. "Fernando Henrique precisa nomear um articulador político", diz um deputado a algum jornalista.
"Convém que seja do PMDB", segreda outro interessado a um ouvido ocioso. É o bastante para que Clóvis Carvalho passe a frequentar as páginas como candidato ao desemprego. O PMDB sugere Aloísio Nunes Ferreira para a vaga, ainda hipotética.
O burburinho da reforma é o que há de real até agora. O saara de notícias do fim do ano tende a transformá-lo numa algazarra de escola de samba. É preciso saber se Fernando Henrique dançará no ritmo ditado pelos partidos ou se colocará na vitrola música mais lenta, mais a seu gosto.
O Planalto emite sinais trocados. Ora se diz que o presidente trocará alguns auxiliares. Ora se afirma que está satisfeito com o time escalado em janeiro. Muito papel e tinta serão gastos até que se decida.

Texto Anterior: Tucano + poder = pavão
Próximo Texto: Desejo colorido
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.