São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 1995 |
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Desejo colorido
ANTONIO CARLOS FARIA Antonio Carlos de FariaRIO DE JANEIRO - Devia haver uma lei contra as más notícias. É o que parece desejar o governo FHC, cujos membros, inclusive o presidente, vivem criticando quem os questiona sobre coisas que incomodam. São exteriorizações desse desejo as reações nos episódios da gravação de conversas no Planalto e da descoberta de uma pasta com nomes de políticos beneficiados pelo Banco Econômico. A crise instaurou-se no meio governamental e entre seus parlamentares apoiadores não só pelo conteúdo das revelações, mas pelo fato de terem sido feitas. A indignação de ministros, que quase agridem repórteres, exemplifica esse estado de espírito. O mandato tucano-pefelista sente-se acima de qualquer suspeita. Há outras pastas além da cor-de-rosa, encontrada no Banco Econômico, e a pressão dos ministros e parlamentares governistas visa evitar que os conteúdos, que revelam favorecimentos irregulares, venham a público. No caso da escuta que gerou toda a suspeita de tráfico de influência no projeto Sivam, as consequências estão vindo como as explosões de bombas armadas em série. Caíram um ministro, um embaixador, o projeto está sendo reavaliado pelo Congresso, e o presidente FHC, para contornar a crise, buscou o aval do Conselho de Defesa Nacional. Também caiu o presidente do Incra e uma sindicância foi montada para determinar quem são os responsáveis pela escuta telefônica. Execra-se a ousadia de ter sido feita uma investigação. Afinal, se não tivesse existido, tudo estaria nos eixos, com o Sivam aprovado e nenhum arranhão na imagem imperial dos atuais inquilinos do poder. Antes desses abalos, o que mais assanhava o governo era ficar alimentando e desmentindo as notícias de seu projeto de reeleição. Fernando Henrique deve ter saudade desse passado recente. Texto Anterior: A falsa notícia Próximo Texto: Charme e amargura Índice |
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