São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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Conar condena anúncio de importados

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária) acusa a empresa Sand Lake do Brasil de desrespeitar a ética de conduta do órgão ao anunciar seus produtos em comerciais e programas de TV.
Segundo Edney Narchi, 46, diretor-executivo do Conar, todo anunciante deve ter autorização legal para a venda do produto e comprovar a veracidade das informações de sua publicidade.
O diretor cita cinco produtos da empresa como exemplos de "publicidade enganosa": o GH12, que promete combater a calvície, o Z30, contra o mau hálito, e o Ecstasy, com supostos efeitos afrodisíacos.
A lista continua com Stronger, um produto para ganhar peso, apresentado como "a academia em cápsulas", e o Chroma Gum, um chiclete dietético que promete a perda de até dez quilos em um mês.
"Já enviamos comunicados às emissoras, mas não adianta. Como a Sand Lake é um anunciante forte, três canais ainda abrem espaço para a publicidade da empresa", afirma Narchi, referindo-se às emissoras Manchete, Record e CNT/Gazeta.
O diretor-superintende da Sand Lake, Mário Kohn, 46, diz que o problema está na "mentalidade do Terceiro Mundo". "Nossa publicidade é agressiva. Adotamos a mesma linguagem usada pelas empresas de telemarketing nos EUA. O consumidor tem que ser levado pelo impulso."
A publicidade dos produtos Sand Lake traz depoimentos de artistas e o consumidor é incentivado a ligar na mesma hora para fazer seu pedido. A empresa garante que as 50 primeiras chamadas levam um desconto de 50% (só que o preço não é divulgado no ar).
A empresa, que atua no mercado há um ano, tem um faturamento médio de R$ 3,5 milhões por mês -englobando acessórios de ginástica, presentes, utilidades domésticas e produtos de limpeza.
"Não enganamos ninguém. Se o GH12 não funcionasse, não venderíamos cerca de 1.500 frascos por dia", diz. Segundo Kohn, a empresa garante a devolução do dinheiro caso o consumidor não fique satisfeito com o resultado.
O diretor admite que os produtos são vendidos sem registro no Brasil. A Sand Lake tentou enquadrar 16 de seus produtos (classificados como complemento alimentar ou complexo vitamínico) na categoria alimentos. Mas o pedido foi negado tanto pela Secretaria de Estado da Saúde quanto pelo Ministério da Saúde.
"É possível enquadrar complementos alimentares na legislação de alimentos. O problema é que, depois da análise, constatamos que os produtos têm função terapêutica", afirma Sônia Gil Costa, 37, diretora da Divisa de Produtos do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde.
Segundo Elisaldo Carlini, 65, secretário nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, a empresa de telemarketing Sand Lake deveria ser registrada como importadora de medicamentos para vender seus produtos.
"Cada medicamento deve ser analisado como tal e o registro só sai depois de comprovada a eficácia. No caso da Sand Lake, seria difícil. Eles prometem, mas não cumprem", diz o secretário.
Como a Sand Lake não conseguiu registrar seus produtos como alimentos -o Ministério da Saúde indeferiu o pedido em outubro último-, a empresa parou de importar. Mas as vendas continuam graças ao sistema de expedição direta dos EUA.
O cliente faz o pedido pelo telefone, a empresa encaminha à Sand Lake Products (a matriz nos EUA) e a mercadoria é despachada ao Brasil. O consumidor recebe o produto pelo correio.
"Dessa forma, o produto vem diretamente do exterior. Nós apenas efetuamos a cobrança. É como se o consumidor comprasse uma vitamina nos EUA e quisesse trazer ao Brasil. Ninguém pode proibir isso", diz Kohn.
(EG)

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