São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
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Banco dá prejuízo sem ganho inflacionário

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banespa, sem o lucro inflacionário, vai dar prejuízos seguidos, a menos que passe por um forte processo de ajuste.
Tal é a conclusão que se obtém a partir dos números levantados pela EFC Engenheiros Financeiros, a partir dos últimos balanços. Os números mostram um banco pouco operacional, inchado, com excesso de funcionários e de agências, quando comparado com os principais bancos privados.
Ou seja, o acordo pelo qual o governo federal vai financiar o governo paulista, para que este quite sua dívida de R$ 15 bilhões com o Banespa, resolve apenas uma parte dos problemas do banco.
Depois de acordo, o banco que será devolvido ao controle do governo paulista é uma instituição não ajustada à vida sem inflação.
Todo o lucro registrado nos balanços de 1992, 93 e primeiro semestre de 94, o último publicado, transforma-se em pesados prejuízos quando se retira o ganho inflacionário, aponta Carlos Coradi, da EFC. Sem contar que o lucro registrado no balanços era resultado de artifícios contábeis.
Ganho inflacionário é o que o banco obtém aplicando o dinheiro que fica parado na conta dos clientes. Sendo o caixa do governo do Estado, o Banespa recebe a arrecadação dos impostos e detém as contas de todos os servidores públicos.
Um dia aplicando a folha de pagamento, por exemplo, dava um lucro excepcional no período de inflação alta, verificada até junho de 1994. Pelos últimos balanços, o ganho inflacionário representava cerca de um terço das receitas totais do Banespa (veja o quadro).
Essa parte da receita desaparece com a inflação atual, de pouco mais de 1% ao mês, e com tendência de queda para 1996. E ao contrário do que fizeram os bancos privados, o Banespa não se ajustou ao fim da inflação.
Mesmo durante este ano em que esteve sob intervenção do Banco Central, foram raras as medidas de ajuste. O saneamento vai ficar, assim, sob responsabilidade do governo paulista, tão logo recupere o controle do Banespa. Será um enorme problema político para o governador Covas.
O acordo para a suspensão da intervenção prevê que a nova administração tomará medidas para obter uma "redução substancial nos custos do Banespa". Isso significa redução de despesas com pessoal e administrativas. Concretamente, fechamento de agências e demissão de funcionários.
A instituição tem muitas agências deficitárias e muitos funcionários por agência, quando comparado com os maiores bancos privados, de porte semelhante. Houve redução de quadros neste ano, por meio de aposentadorias voluntárias, mas insuficiente.
Além disso, os salários pagos pelo Banespa são superiores aos de seus concorrentes diretos.
Além do corte de despesas, o Banespa precisará aumentar receitas. Assim, certamente os clientes pagarão mais pelos serviços.
A nova diretoria do banco precisará ainda encontrar novos mercados. E finalmente será preciso desenvolver um esforço de saneamento dos empréstimos concedidos pelo Banespa. Há muitas operações ruins, feitas por razões políticas, e hoje de difícil recebimento.
Depois da farra de emprestar, ou de distribuir benefícios, chegou a hora da cobrança. E há muitas prefeituras que devem ao Banespa.
Em resumo, o governador Mario Covas está recebendo um banco em péssimas condições. Assume, em consequência, o ônus político de saneá-lo.
A ampla frente política que se formou em São Paulo para combater a intervenção do BC certamente se dissolverá tão logo comece o ajuste do Banespa.
Prefeitos que apoiaram o governador poderão ver agências fechadas em suas cidades. Funcionários que foram às ruas contra a intervenção poderão ser demitidos.
E o governador não terá alternativa. Ou banca o saneamento ou logo estará de novo de pires na mão em Brasília.

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