São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995 |
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Índios trocam o Paraná por São Paulo
KENNEDY ALENCAR
O cacique da aldeia, Guarapepó (Asa de Pássaro, em guarani), diz que há dois meses cerca de 20 famílias do Paraná se juntaram a outras 40 que já viviam na aldeia. No total, moram cerca de 280 pessoas na tribo de São Paulo. Os índios são do grupo guarani. A índia Odina de Souza, 20, chegou na aldeia na segunda-feira, dia 11. Ela veio da Aldeia Rio das Cobras, no município de Nova Laranjeira (PR), há sete meses. Antes de ir para a tribo, esteve na Casa do Índio, em São Paulo. 'À vida lá no Paraná é mais dura", diz Odina, que não sabe o que significa kKerexu, seu nome em guarani. Márcia de Lima, 24, que hospeda Odina em sua casa, afirma que no Paraná o trabalho na lavoura é mais duro. 'Àqui ganhamos roupas e alimentos de pessoas que visitam a aldeia, o local tem mais estrutura e é mais fácil para viver", diz. Nascida no Paraná, Márcia está na aldeia de São Paulo há sete anos. Tem quatro filhos e também não sabe o significado de seu nome guarani, Jera. O índio Pedro Gabriel, "mais ou menos uns 59 anos", chegou do Paraná em maio com sua família (nove pessoas). Diz que veio para São Paulo porque é cunhado do cacique da aldeia. "Na verdade, prefiro a vida no Paraná, porque tem mais lugar para a lavoura", afirma ele, cujo nome em guarani é Veratupã (Deus Verá). Ele diz estar "meio parado" atualmente. Para viver, vende artesenato e corta palmito. O índio nhambiquara René Kithaulu, nascido no Mato Grosso, casou-se com uma guarani da aldeia e vive em São Paulo há seis meses. Kithaulu significa "o menino que brilha" em nhambiquara. Kithaulu chegou a trabalhar em Ribeirão Pires, Grande São Paulo, num grupo de teatro indígena, da Casa do Índio. Segundo ele, os índios da aldeia vivem de pequenas plantações de milho, mandioca, feijão e arroz. "Tem muita bananeira e tilápias na represa", diz. Kithaulu afirma que os índios ainda cortam palmito na mata da região e vendem artesanato. Por um quilo de palmito, conseguem cerca de R$ 5,00. O cacique Guarapepó, 55, diz que tem saudade do tempo de seus pais e avós, quando havia apenas mata na região de Parelheiros. Ele conta que nasceu no meio da floresta. Reclama de não poder manter um antigo costume, o de casar com cinco ou seis mulheres. Casado com apenas uma, diz: "O feijão tá caro, né?". A partir dos 15 anos, os índios já podem casar. A Aldeia Morro da Saudade tem oito alqueires e é uma reserva reconhecida pela Funai (Fundação Nacional do Índio). Atualmente, existem cerca de 30 mil índios guaranis no Brasil, vivendo principalmente no Estado de São Paulo. Quando o Brasil foi descoberto, em 1500, estima-se que havia cerca de quatro milhões de índios no país. Texto Anterior: Megacidade sem rumo 1 Próximo Texto: WALTER CENEVIVA Índice |
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