São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
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Megacidade sem rumo 1

NABIL GEORGES BONDUKI

"É inacreditável o prefeito realizar grandes obras viárias isoladas, como a Faria Lima, túneis e quinquilharias sem ter elaborado um plano geral"
Em 1929, Prestes Maia, engenheiro da prefeitura de São Paulo, publicou um livro que se tornou um clássico: Estudo para um Plano de Avenidas. Verdadeiro compêndio de urbanismo, sintetizava uma proposta estrutural para a cidade, enfatizando a abertura de um conjunto de avenidas em resposta às novas necessidades criadas pela difusão dos automóveis nos anos 20.
Plano abrangente, Maia tinha consciência de que sua implantação levaria décadas para se concretizar. No entanto, ou por isto mesmo, ele se tornou uma referência para as intervenções que a prefeitura fez até Faria Lima (1965/9), 40 anos depois de sua concepção.
Independentemente das muitas críticas à proposta de Maia (por exemplo, a excessiva ênfase viária consolidando a opção pelo automóvel em S. Paulo, a ocupação dos fundos de vale com avenidas e o tratamento para o Tietê, alternativas que comprometeram o meio físico da cidade), o plano ordenou as obras para a cidade, tornando-se um instrumento para a priorização dos investimentos municipais.
Em 1929, São Paulo tinha 850 mil habitantes; seus administradores e técnicos municipais tinham uma estratégia (certa ou errada, não importa discutir aqui), para enfrentar seu crescimento. Hoje, quase sete décadas depois, com mais de 15 milhões de habitantes e problemas muito mais complexos, esta megacidade está sem rumo, sem plano diretor, sem plano estratégico de desenvolvimento debatido como a sociedade.
É inacreditável o prefeito mandar realizar grandes obras viárias isoladas, como a Faria Lima, túneis e outras quinquilharias, gastando várias centenas de milhões de dólares, sem ter elaborado um plano geral capaz de equacionar de um modo abrangente os cada vez mais graves (apesar dos grandes investimentos) problemas de deslocamento na cidade.
Sem um plano de obras democraticamente conhecido e debatido por todos os segmentos e regiões da cidade, que estabeleça as prioridades a curto e médio prazos, continuaremos submetidos ao autoritarismo do executivo municipal, que determina tudo o que a Câmara de vereadores deve aprovar, graças ao "dando é que se recebe".
Autoritarismo que, na verdade, representa colocar os recursos que pertencem aos paulistanos e que estão momentaneamente sendo administrados pelo prefeito, a disposição do conjunto de interesses privados que dependem da prefeitura, como grandes empreiteiras (a maioria envolvida com o esquecido escândalo Pau-Brasil) e negócios imobiliários.
Novas obras estão engatinhadas: extensão da Sumaré, túnel na Panamericana, viadutos no Pinheiros, 2º túnel sob o Ibirapuera. Não por acaso no quadrante sudoeste e destinados para os carros. São importantes e prioritárias? Impossível saber! Uma megacidade no casos e sem referência para o seu futuro não consegue sequer dimensionar a necessidade e a relação custo-benefício de uma intervenção isolada. continuaremos sem rumo?

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