São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
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Unesp testa veneno de cobra no tratamento de câncer

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAURU

A Unesp (Universidade Estadual Paulista) está pesquisando o uso do veneno das cobras jararaca e cascavel no combate ao câncer.
O trabalho está sendo realizado pela equipe do pesquisador Reinaldo José da Silva, 28, do Centro de Estudos de Venenos de Animais Peçonhentos, em Botucatu (225 km a noroeste de São Paulo).
Silva disse que utilizou como cobaias 420 camundongos com tumor de câncer Ehrlich, que causa a morte do animal 30 dias após se manifestar no organismo.
Segundo o pesquisador, esse tumor normalmente aparece na glândula mamária dos camundongos. Nas cobaias, o câncer foi inoculado na cavidade do intestino para que fosse feita a pesquisa.
Silva afirmou que as pesquisas indicaram que o veneno da jararaca mostrou-se "mais eficaz" nos resultados do que o da cascavel.
O veneno é aplicado diretamente no local. Antes da aplicação, passa por um processo de retirada de bactérias e impurezas que poderiam comprometer as pesquisas.
"O tumor de 80% das cobaias que receberam o veneno de jararaca foi eliminado ou praticamente eliminado após as aplicações que realizamos", declarou.
O veneno da cascavel apresentou resultado diferente. Segundo Silva, na maioria dos casos não houve eliminação do tumor, mas uma redução do seu crescimento.
Cada animal recebeu, por aplicação, 10 mil vezes menos veneno do que em uma picada de cobra.
Silva disse que em 96 as pesquisas prosseguirão, mas para tentar identificar mecanismos biológicos que causam reação no organismo após a aplicação do veneno.
O objetivo, se constatada a eficácia do veneno, é chegar a um tipo de vacina contra o câncer.
"A suspeita é que o veneno estimularia o sistema imunológico a agir, atacando o tumor de câncer, evitando o seu crescimento e até causando sua eliminação", afirmou Silva.
Segundo ele, os tumores de câncer se desenvolvem porque o sistema imunológico dos animais e seres humanos não reagem.
"Os estudos indicam que as células cancerígenas liberariam um agente depressivo, que afetaria o sistema imunológico, e isso impediria o combate ao câncer, ocorrendo o desenvolvimento do tumor", declarou.
Para o pesquisador, o veneno de cobra seria uma espécie de "agente estimulador" do sistema imunológico, que, uma vez colocado em ação, atacaria o tumor cancerígeno, destruindo-o.
Ele afirmou que as pesquisas já têm três anos, mas ainda não há previsão de quando serão iniciados testes em seres humanos.

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