São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
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Estrela solitária sustenta o campeão

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O jogo começou sobre um fio de navalha. Mas as duas primeiras jogadas foram exemplares: duas faltas de Túlio em Narciso, o artilheiro marcando o zagueiro. Isso bastava para revelar a disposição do Botafogo.
Já o Santos, abdicando dos já ortodoxos dois volantes, com Carlinhos no lugar de Gallo, assessorado por Marcelo Passos, Jamelli e Robert, em rodízio, nem conseguia imprimir uma blitz irresistível nem assegurar a paz total nas cercanias de sua área.
E, na primeira bola alta, veneno para a defesa santista, a cabeçada, bola nos pés de Túlio, impedido, e 1 a 0, claro. A resposta só viria aos 33min, com Giovanni desperdiçando na cara do gol, cena que se repetiria com Marcos Adriano pouco além.
O Santos volta para o segundo tempo com Macedo aberto pela direita, e é por ali que Marquinhos Capixaba faz um lançamento de mão para Marcelo empatar. Elas por elas. E até o final foi o samba de uma nota só: o Santos tentando, o Botafogo aguentando. Aguentou, graças ao goleiro Wagner. E graças àquela estrela solitária e campeã.

Foi um campeonato deficitário e com regras nebulosas, que abriam claras brechas para injustiças do ponto de vista estritamente técnico. Mas qual a novidade? Foi apenas mais um replay do que vem acontecendo nesse nosso caótico e sofrido calendário futebolístico desde o descobrimento, com raríssimos interregnos.
Ora, como isso parece estar impregnado definitivamente na alma dos cartolas de todas as gerações, fiquemos com o lado bom. O que deu certo?
Deu, em primeiro lugar, no disco de chegada, duas equipes -o Santos e o Botafogo- que, pela característica de seus jogadores e a abertura de seus treinadores, têm vocação para atacar, buscar o gol, jogar no risco da sensação mais aguda, contrariando a malsinada tendência predominante nos últimos anos de se jogar no erro do adversário, nunca arriscando nada, mesmo que esse "nheco-nheco" seja o prenúncio da morte da essência do jogo -uma trama, onde se combinam talento, preparo físico, equilíbrio emocional, espírito de competição, solidariedade, estratégia e uma boa dose de sortilégio.
A chegada para a decisão de dois times que privilegiaram o ataque, ainda que sabendo-se vulneráveis na defesa, num torneio disputado como esse, prova, pelo menos, que é possível ser campeão, mesmo jogando bonitinho e se expondo ao contragolpe, que era a cicuta dos pesadelos de Parreira na Copa do Mundo.
E mais: isso ocorre em um instante em que o Ajax, o mais destemido do mundo, até mesmo temerário, ainda celebra o título mundial de Tóquio, diante da sua exata contrafacção -o nosso Grêmio-, embora naquele jogo, excepcionalmente, os holandeses não tivessem sido plenos na sua expressão ofensiva.
Resumindo: ainda há salvação.

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