São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
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Milton relança CD de sua missa étnica

Disco traz pregação do arcebispo dom Hélder Câmara

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

A história do CD da "Missa dos Quilombos", de Milton Nascimento, relançado em homenagem aos 300 anos da morte de Zumbi, traz um paradoxo: um dos discos mais vendidos de Milton no exterior, não fez sucesso por aqui quando lançado em 82.
Feitas em parceria com o arcebispo dom Pedro Casaldáliga e com o poeta Pedro Tierra, as 15 canções recriam a missa católica, sob o ponto de vista dos negros.
Ela foi celebrada pela primeira vez no Recife, em 1981, sob pressão da censura, ameaças de atentado e condenação do Vaticano.
Em 81, possuía uma conotação política para além da questão do negro: um protesto contra o latifúndio, a miséria, a discriminação. Sob regime militar, tais temas, hoje batizados de "questão social", ganhavam outro rótulo: subversão.
Versos como "Em nome do povo/ que fez seu Palmares/ que ainda fará/ Palmares de novo" ("Em Nome de Deus"), soavam como pregação revolucionária.
O arcebispo dom Hélder Câmara resumiu a situação na pregação que fez em 81 aos fiéis, incluída no CD: "Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão, que é comunismo. É o Evangelho de Cristo, Mariama".
Se o conteúdo de protesto ainda continua, sob muitos aspectos, atual, o CD está agora livre do peso das condenações dos anos 80, e merece ser ouvido pela sofisticada celebração musical que contém.

Disco: Missa dos Quilombos
Gravadora: Polygram
Quanto: R$ 18, em média

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