São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
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Compositor foi mulherengo mas não devasso

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O livro de Barry Millington procura relativizar a idéia de que Wagner tenha sido um devasso, praticante de um donjuanismo rasteiro que tomou prioritariamente como presas as mulheres de seus melhores amigos.
Há um curto capítulo sobre o tema, mas um número incomparavelmente superior de informações esparsas que reforçam justamente a imagem que Millington procura relativizar.
Tudo começa de forma ingênua e em nada adúltera, quando Wagner, aos 20 anos, tem uma curta aventura com uma soprano, Therese Ringelman, a quem dá aula particular de canto. E termina tragicamente aos quase 70, quando seu "affaire" com uma outra soprano, Carrie Pringle, provoca uma crise de ciúmes com sua segunda mulher, Cosima, e horas, depois o ataque cardíaco que o matou.
Entre uma e outra, há um desfile de situações moralmente atípicas. Judith, filha do escritor francês Théophile Gauthier, divide-se entre o marido e o compositor, que diz necessitar da "embriaguez de sua presença espiritual".
Jessie Laussot, mulher de um comerciante francês de vinhos e que, como admiradora, lhe dera uma pensão anual, é seduzida e só não consuma seu plano de fugir com ele para a Grécia porque o marido aborta a aventura na undécima hora.
Duas mulheres de nome Mathilde estão no catálogo. A menos importante delas tinha como sobrenome Maier e era filha de um tabelião. A mais importante, Wesendonck, é a mulher de Otto, milionário e diletante alemão que esporadicamente tira Wagner de suas dificuldades financeiras.
Quando Wagner ainda estava casado com a atriz Christine Wilhelmine, apaixona-se por Cosima, filha de Fraz Liszt e mulher do barão Hans Guido von Büllow, grande pianista e regente, que conduziu as estréias de "Tristão" e "Os Mestres Cantores".
A bem da verdade, Wagner não chegava ao ponto de levantar a saia de camponesas incultas ou de atacar arrumadeiras de hotéis em que se hospedou. Seu desejo nascia da admiração cega que despertava. Seduzia pela mística e levou Cosima a sentir por ele uma espécie de contemplação hagiográfica.
(JBN)

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