São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
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Media Lab projeta futuro do cinema

Instituição vive 100 anos em dez

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Para debater as projeções para o cinema de amanhã, como faz o Instituto Lumière de Lyon agora e o Festival de Roterdã no mês que vem, é hoje obrigatório voltar os olhos para o Media Lab do MIT (Massachusetts Institute of Technology) em Cambridge, EUA.
Em dez anos que pesam como cem, segundo seu principal executivo e grande ideólogo, Nicholas Negroponte, o Media Lab consagrou-se como o mais agressivo centro internacional de pesquisas aplicadas em comunicações. Precocemente tão antigo quanto o cinema, o Media Lab dedica um de seus departamentos às perspectivas de seu arquicelebrado contemporâneo.
"Filmes do Futuro" é o programa capitaneado por Gloriana Davenport no Grupo de Cinema Interativo do Media Lab. Como tudo no gabinete virtual do dr. Negroponte, as experiências parecem oscilar entre a frenética pesquisa pela pesquisa do laboratório do professor Pardal e o projeto com finalidade imediata das james-bondianas oficinas de gadgets de Q.
Um longo dossiê publicado num dos últimos números da "American Cinematographer" resume num feliz subtítulo todo o esforço da equipe de Davenport: "Contando Histórias com Computadores". É este o objetivo central: desenvolver programas de informática que potencializem a interatividade entre filme (por assim dizer) e público (idem).
Trocando em miúdos: o Media Lab dá como certa a revolução na distribuição e exibição dos filmes, ou como se prefere hoje, da obra audiovisual. Tanto é assim que apostou forte na pesquisa da transmissão digitalizada para TV de alta definição. Para Negroponte, já não faz sentido diferenciar aparelho de TV e monitor de computador.
Toda casa vira assim uma sala de cinema em potencial. O desafio, no campo da produção, é ir muito além: tornar todo espectador um possível co-autor dos filmes que vê. "A questão nesse tipo de filmes (que desenvolvemos) é quão participativa a platéia é", diz Davenport.
Alguns exemplos. Um dos protótipos é o "filme multilinear", em que o espectador pode fazer escolhas dentre uma imensa cadeia de histórias que se cruzam. Algo como se fosse possível a cada um de nós decidir qual das tramas de "Short Cuts" de Robert Altman preferimos priorizar.
Outro modelo, batizado de "Thinkies", cinema pensante em tradução livre, é muito próximo de um computer-game coletivo jogado via Internet (uma espécie de "Detetive" high-tech).
"Media Elástica" permite ao espectador escolher sua própria versão, com a duração que preferir, de determinada história. Já "Documentário em Evolução" realimenta constantemente um filme sobre determinado tema.
É cedo para saber se o Media Lab está mesmo forjando os novos padrões de fruição cinematográfica. Mesmo Davenport reconhece um longo caminho a percorrer, sobretudo visando tornar menos solitária a futura "navegação de filmes". "Será um hábito principalmente da nova geração, que cresceu com o videogame", reconhece.
Para nós outros, amamentados pelo cinematógrafo, a interatividade que conta é mesmo a provocada pela quente luz na sala escura.

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