São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
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Um caso raro

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - Enfim, uma boa notícia na área policial: estão indiciados cinco policiais militares que participaram diretamente da ação de resgate no Morumbi, no início de novembro, que terminou com dois reféns mortos.
Os policiais são acusados de terem matado os dois reféns. Na época, o capitão que comandou a operação definiu-a como um sucesso.
Esse mesmo capitão, agora indiciado, atribuiu as mortes dos dois reféns aos assaltantes. Disse, então, que os policiais do Gate por ele comandados só invadiram a obra quando os assaltantes mataram o primeiro refém.
Tudo mentira. A reconstituição do crime e o exame das armas está provando o contrário. Além do capitão e de seus quatro comandados, está indiciado o comandante do seu batalhão, que acompanhou toda a desastrada ação.
O caso é realmente relevante porque é uma exceção na história de apurações de crimes que envolvem policiais. A tradição de impunidade lhes dá antecipada segurança.
Só assim se justifica, em casos como esse, a absoluta indiferença de policiais com cargos de comando para as consequências de suas palavras e atos.
Pior: no caso do Morumbi, além da arrogância e das mentiras cinicamente distribuídas pelo oficial, houve o propósito de descaracterização do crime para dificultar o trabalho de investigação. O local das mortes foi desfeito, os operários foram intimidados para que não servissem de testemunha e as armas usadas custaram a aparecer.
Nada disso, no entanto, impediu a ação da polícia técnica. A reconstituição do caso e os laudos do Instituto de Criminalística deram segurança ao indiciamento. Até este momento, o caso surpreende positivamente porque está andando rapidamente e porque os procedimentos de investigação policial, quase sempre ignorados ou negligenciados, estão sendo eficazmente utilizados.
O caso entra agora em nova fase, esta também amplamente desacreditada: o crime será julgado pela Justiça Militar.
Há uma campanha para que os crimes cometidos por policiais sejam julgados pela Justiça comum, e não por um fórum privilegiado. Este é um bom momento para se ver até onde têm razão os que duvidam da Justiça Militar.

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