São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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Procuradoria manda investigar Econômico

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Procuradoria Geral da República vai determinar hoje à PF (Polícia Federal) abertura de inquérito para investigar crimes praticados pelos dirigentes do Banco Econômico contra a ordem tributária e o sistema financeiro nacional.
A iniciativa é decorrente da análise dos documentos que integram a pasta cor-de-rosa encontrada pelo Banco Central quando da intervenção federal no banco baiano.
A documentação (lista de beneficiários, notas fiscais "frias" e cheques) revelaria um suposto esquema de financiamento de campanhas políticas montado pelo Econômico. À época, 1990, doações de empresários para candidatos eram proibidas por lei.
Os subprocuradores que investigam a pasta rosa pretendem pedir a abertura de inquérito policial em Brasília, apesar de a maioria dos supostos crimes ter sido praticada na Bahia.
Segundo a Procuradoria, o esquema do Econômico funcionava nos mesmos moldes do montado pelo empresário Paulo César Farias, o PC, para financiar candidatos às eleições de 1990 que fossem simpáticos ao ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Em razão dessas semelhanças, a subprocuradora Ela Castilho disse que vai solicitar à PF que seja designado o delegado Paulo Lacerda para o inquérito do banco baiano. Ele foi responsável pelo caso PC.
A Procuradoria, por exemplo, verificou que duas gráficas "fantasmas" que atuaram no esquema PC forneceram notas fiscais "frias" ao Econômico.
As notas das gráficas Dênis (SP) e Itacuruba (BA) foram para justificar gastos do banco em 1990. No entanto, essas empresas, segundo os subprocuradores, deixaram de existir antes desse ano.
Segundo Ela Castilho, até a grafia das notas da Dênis é a mesma da encontrada nos documentos usados pelo ex-tesoureiro de Col- lor. Ela foi informada que essa gráfica não existe desde 1988.
"O caso da pasta cor-de-rosa é o mesmo do esquema de PC Farias", disse a subprocuradora, tomando por referência a utilização de empresas "fantasmas" para a emissão de notas fiscais "frias".
Na pasta rosa, a Dênis tem sua nota relacionada ao senador José Sarney (PMDB-AP). Sua assessoria informou que a acusação é descabida, já que Sarney é dono de gráfica em São Luís (MA) e não iria pedir serviços a uma empresa paulista. A Dênis emitiu duas notas fiscais, nos valores iguais de Cr$ 5 milhões (US$ 135 mil, em valores atualizados).
Informações colhidas pela subprocuradora apontam que a outra gráfica, a Itacuruba, pertence a uma empresa de Recife, denominada de M.V. Sobrinho. A empresa teria prestado serviços ao então candidato ao governo de Pernambuco Joaquim Francisco (PFL).
Malan
O ministro Pedro Malan (Fazenda) disse que há uma tentativa de extrair significados políticos com a crise da pasta cor-de-rosa. Em entrevista à rádio "Jovem Pan", Malan afirmou que esse caso "parece mais uma tempestade num copo de água".
O ministro disse ainda que as doações do Econômico foram feitas há mais de cinco anos sob um legislação que não previa penalidades a esses financiamentos.

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