São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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'Os Imperdoáveis' reinventa o faroeste

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Quem são "Os Imperdoáveis" (Globo, 22h55)deste faroeste? Seria o sujeito que, no início do filme, desfigura uma prostituta? Seria o xerife Gene Hackman, que mais ou menos exclui as prostitutas da espécie humana e protege quase abertamente os seus algozes, isto é, a "gente honrada"?
Ou seria o próprio Clint Eastwood, ex-pistoleiro, ex-verdadeiro demônio, que após a morte da mulher regenerou-se e, com muita dificuldade, cria porcos e filhos?
Pois, não bastasse o passado, Clint agora dispõe-se a ser o protetor das prostitutas. Não por achá-las em seu direito ou algo assim. Quer apenas a recompensa que oferecem, e que lhe permitiria sair da precária situação econômica em que se encontra.
O Oeste deste filme é um cenário de máculas por toda parte, onde, no entanto, as pessoas almejam a "normalidade". O xerife quer construir sua casa e se estabelecer. O pistoleiro quer a recompensa para criar os filhos adequadamente. É por aí.
Existe, na verdade, um ser inocente no Oeste: é o contador de histórias. O sujeito que recolhe histórias desse universo sórdido e cria sua mitologia.
Esse é o ponto de virada fundamental do filme. Obviamente, esta fábula moral não fala do passado. Dirige-se ao espectador de hoje; as questões que levanta são de hoje.
Existe a do dinheiro e sua importância brutal. Existe, ao lado, essa outra, da discrepância entre o narrado e o vivido. O faroeste construiu-se sobre a crença de uma nação em sua origem (determinando a crença no seu papel mundial, e na permanência de seus valores).
Nos anos 90, o Oeste é uma ruína. O narrador inocente é um ser que pede urgente revisão. Essa a revolução no faroeste operada por Clint Eastwood, que reintroduz o grande gênero épico na modernidade com uma obra-prima.
(IA)

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