São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 1995
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FHC diz que não teme demissão no BC

MARTA SALOMON
ENVIADA ESPECIAL A KUALA LUMPUR (MALÁSIA)

O presidente Fernando Henrique Cardoso investiu ontem contra uma eventual reação da diretoria do BC (Banco Central) à punição do diretor de Normas, Cláudio Mauch, pelo vazamento da pasta rosa, que continha registros de doações do Banco Econômico na campanha eleitoral de 1990.
"Eu não tenho medo de demissão coletiva nenhuma", declarou FHC. Ele repetiu que Mauch tinha responsabilidade sobre a pasta rosa quando o documento foi vazado: "Ele tem que se explicar".
Pouco antes de embarcar para Madri, com uma escala em Abu Dabi (Emirados Árabes), FHC fez uma avaliação dos principais problemas que enfrentará no Brasil a partir de amanhã.
Admitiu retirar do Senado o projeto de financiamento do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), sob a condição de ficar provada alguma irregularidade no contrato com a empresa norte-americana Raytheon.
Antes, o presidente quer ouvir explicações do Ministério da Aeronáutica. Ele insistiu em que não tomará nenhuma decisão "emocional", baseada na reação de políticos ou da opinião pública.
O presidente desautorizou ministros que especulam sobre a possibilidade de mudanças no governo. "Não há razão nenhuma para estar pensando em mudar ministério a esta altura dos acontecimentos", disse.
Apesar das crises que tem enfrentado, FHC mantém a opinião de que é fácil governar o Brasil. E respondeu com ironia às críticas do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
A seguir, os principais trechos da entrevista de FHC:
O CONTRATO DO SIVAM
"Se o documento (apresentado pelo senador Antônio Carlos Magalhães) for de natureza a comprometer a decisão, obviamente não só o Senado tem a obrigação de proceder de maneira a não aprovar, mas eu, antes disso, tomar a medida de retirar o projeto"
"O Brasil tem que ser levado a sério. Se houve um contrato feito pelo governo, aprovado pelo Senado, para ser desfeito tem que ter uma argumentação tranquila, serena. Senão não vamos ser levados a sério fora do Brasil."
"O Antônio Carlos nunca me falou (sobre o documento), nunca, nunca. Isso não quer dizer que não existe documento."
A PASTA ROSA E O BC
"Eu não tenho medo de demissão coletiva nenhuma não. Olha aqui: eu fui eleito por 34 milhões de pessoas para governar o Brasil da maneira que me parecer, junto com o Congresso, melhor. E farei isso. Os diretores do Banco Central me conhece e eu os conheço. São pessoas que têm responsabilidade, que não atuam por impulso, como eu também não."
"O (Cláudio) Mauch é um funcionário competente, que reorganizou o Banco Meridional, um homem sério. Eu duvido que ele faça alguma coisa no sentido de dar documentação secreta. Agora, se estava na responsabilidade dele no momento em que foi vazado, ele tem que explicar."
A REFORMA MINISTERIAL
"Vou repetir: o nosso sistema é presidencialista. O presidente foi eleito e o presidente decide. A decisão é minha: eu não vou mudar ministério nenhum. Não há nenhuma razão para estar pensando em mudar ministério a esta altura dos acontecimentos."
"Quando eu achar que tem que mudar, eu mudo. E claro que nessa hora eu vou conversar com os líderes políticos."
AS CRÍTICAS DE SARNEY
"Falei com o senador Sarney ainda ontem pelo telefone. Ele veio muito contente dizer que o Senado aprovou tudo o que nós pedimos. Acho que o senador tem tido uma ação de cooperação contínua com o governo."
"Não houve críticas. Ele disse que eu devia dizer que era fácil governar o Brasil, vírgula, graças a Deus. Ora, com a experiência dele, de ex-presidente, ele falou graças a Deus o tempo todo porque foi muito difícil governar na época dele. Sempre é difícil governar. Essa dificuldade, a gente supera com boa vontade, com argumentação, com convicção. Eu acho que levando assim é fácil, graças a Deus."

Como não há vôos comerciais regulares entre Pequim e várias cidades da China e da Malásia que o presidente Fernando Henrique Cardoso está visitando desde sexta-feira, a Folha foi convidada e aceitou percorrer esses trechos no avião reserva da Presidência. Todas as outras despesas de transportes, hospedagem e comunicação correm por conta do jornal.

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