São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 1995
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PF deve afastar um delegado dois agentes e abrir inquérito

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A sindicância da PF (Polícia Federal) que investigou o "grampo" telefônico na casa do embaixador Júlio César Gomes do Santos, ex-assessor da Presidência, deve recomendar a demissão de um delegado e de dois de seus agentes.
O relatório da sindicância presidida pelo delegado Galileu Pinheiro, 49, mantém a versão de que a investigação do embaixador Júlio César começou com uma denúncia anônima e não aponta as responsabilidades no caso do ex-presidente do Incra Francisco Graziano.
Os três acusados estiveram ligados diretamente ao caso do "grampo": o delegado Mário José Oliveira Santos, que decidiu grampear o telefone e pediu autorização à Justiça; o agente Cláudio Vieira Mendes, que soube da escuta e passou a história ao agente Paulo Chelotti, assessor de Graziano; Chelotti que recebeu de Cláudio o conteúdo das gravações e o repassou a Graziano.
Pelo relatório parcial, apresentado ontem ao ministro da Justiça, Nelson Jobim, houve uma sequência de transgressões disciplinares ao Regime Jurídico dos Policiais Federais (decreto 59.310/66).
O delegado Galileu considerou "grave e eivado de vícios" todo o processo que resultou na escuta das conversas do embaixador.
Graziano, apesar de não ser policial, aceitou depor. As punições para ele, se for o caso, ficarão para a comissão que investiga tráfico de influência, coordenada pela Secretaria Geral da Presidência. O embaixador Júlio César foi convidado a depor, mas não aceitou.
O relatório dirá que o delegado Mário Santos, 43, ex-diretor do Centro de Dados Operacionais da PF, autorizou a escuta de forma irregular, com base apenas em telefonemas anônimos. Ele deveria ter investigado melhor as denúncias antes de decidir pelo "grampo".
Procuradoria
O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, requisitou ontem à Polícia Federal a instauração de inquérito para apurar indícios de crimes praticados por Júlio César Gomes dos Santos, ex-chefe do Cerimonial do Planalto, e pelo presidente da Líder Táxi Aéreo, José Afonso Assumpção.
Segundo Brindeiro, eles serão investigados por suspeita de crime de enriquecimento ilícito (caso de Júlio César) e suspeita de corrupção (caso de José Assumpção).
Brindeiro afirmou que a instauração do inquérito é baseada em informações sigilosas e não no "grampo" feito no telefone do embaixador. Para o procurador-geral, o "grampo" é ilegal. Ele não quis revelar essas informações.
Brindeiro também anunciou que vai requisitar ao senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) o teor do documento que disse possuir com graves acusações contra a empresa Raytheon.

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