São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 1995
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PC revela a existência de 4 'esquemas'

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Paulo César Farias, ex-tesoureiro de campanhas eleitorais de 1989 e 90, revela que havia pelo menos quatro grandes esquemas de financiamentos de candidatos em 90.
Além da pasta cor-de-rosa, montada pelo Banco Econômico e com a ajuda da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), o ex-tesoureiro aponta o seu próprio esquema -o PC/Collor-, o da indústria do cimento e o das empreiteiras.
Para a subprocuradora da República Ela Castilho, os caixas eleitorais do Econômico e PC/Collor funcionavam de forma semelhante.
"Tinha pasta de todas as cores, a do cimento era a pasta cinza", diz o empresário, condenado a sete anos de prisão pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por movimentar contas bancárias fantasmas em campanhas eleitorais.
Os grupos funcionavam de forma independente, lembra PC, mas podiam bancar candidatos comuns em alguns Estados. PC Farias, que cumpre pena em regime semi-aberto (tem de passar as noites na prisão) em Maceió, organiza no momento as suas memórias -"das campanhas eleitorais ao cárcere"- para a possível publicação de um livro.
Para o ex-tesoureiro, que fala com experiência no ramo, o uso de contas "fantasmas" era um expediente comum em campanhas eleitorais em todos os Estados.
PC conta que se diverte com a lista da pasta cor-de-rosa. Especialmente com o nome do deputado federal Benito Gama (PFL-BA), que comandou a CPI do Collorgate.
"Todo mundo sempre falou das empreiteiras, mas os bancos sempre foram generosos com os candidatos", disse PC. "Na eleição do Fernando (Collor), por exemplo, eles deram tanto dinheiro que fazia até medo, assombrava."
Os construtores, diz, não são organizados e unidos como os banqueiros. Por esse motivo, nunca tiveram um "balcão central" para arrecadar, fazer listas de candidatos e distribuir dinheiro.
As grandes construtoras acabavam atropelando qualquer tentativa de montar um esquema nos moldes da Febraban, por exemplo. "Cada uma fazia a sua própria lista", relata.
Somente no casos das pequenas e médias empreiteiras era possível, de acordo com PC, a formação de caixinhas eleitorais. Essas eram comandadas principalmente por associações regionais de empresas.
Mais desorganizada ainda nas coletas, narra o ex-tesoureiro, era a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). PC acha que a entidade nem merece figurar entre os esquemas.
A indústria do cimento, recorda o ex-tesoureiro, não sofria da desorganização dos empreiteiros e da Fiesp. Conseguiu montar listas e bancar candidatos.
A Folha tentou falar, desde sexta-feira, com diretores da Associação Brasileira dos Produtores de Cimento, entidade que representa o setor e teria participado da organização do financiamento.
Informados sobre o assunto, os diretores da entidade não se pronunciaram a respeito.

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