São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 1995
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TV de Israel exibe assassinato de Rabin

PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT", EM JERUSALÉM

Uma fita de vídeo amadora divulgada pela imprensa israelense pela primeira vez ontem mostra claramente o clarão da bala saindo da arma na mão de Yigal Amir no momento da morte do premiê de Israel, Yitzhak Rabin.
Nesse momento, o primeiro-ministro, movendo-se em direção à porta aberta de seu carro, ainda não reage ao impacto da bala e as cabeças de seus guarda-costas ainda não se voltam para o assassino.
O choque do assassinato de Rabin, ocorrido em 4 de novembro, foi recriado para os israelenses ontem quando o jornal "Yedioth Ahronoth" e, depois, a emissora canal 2 mostraram o videoteipe do assassinato, feito por Ronni Kempler, 37, contador da Procuradoria Geral nacional. "Assistir esse vídeo é masoquismo puro", disse um israelense que se recusou a abrir um jornal ou ligar a televisão o dia inteiro.
A qualidade da fita, pela qual Kempler recebeu quase US$ 400 mil, é baixa durante os momentos decisivos que antecedem o assassinato. No final do comício pela paz, no qual Rabin havia discursado, Kempler filmou por oito minutos atrás do prédio da Prefeitura de Tel Aviv, enquanto aguardava a saída de Rabin. Era noite e havia pouca luz. Mesmo assim, Kempler viu Amir de pé, ao lado de um vaso de concreto.
Há imagens claras de Rabin descendo a escadaria congestionada, com pelo menos dois guarda-costas vestindo camisas brancas e gravatas escuras. Enquanto Rabin anda em direção a seu carro, uma sombra escura se aproxima por trás dele e estica um braço. Quando Amir dispara a arma, o cone de luz saindo do cano de sua arma a faz parecer um maçarico. As sombras escuras e formas indistintas prejudicam a visão.
O vídeo não fornece quaisquer informações novas sobre os erros que facilitaram o assassinato de Rabin, mas comprovam que no próprio momento do assassinato ele estava agindo sozinho.
A comissão Shamgar, que investiga o assassinato, está concentrando suas atenções na total falta de proteção ao premiê fornecida pelos agentes do Shin Bet.
O chefe do Shin Bet, conhecido como "K", e vários outros altos oficiais receberam cartas prevenindo-os de que muito provavelmente serão considerados culpados das falhas na segurança e aconselhando-os a contratar advogados.
As autoridades do Shin Bet prevenidas pela comissão se recusaram a pedir demissão, embora quatro oficiais de escalão inferior na organização já o tenham feito. Shimon Peres recusou o pedido de demissão de "K".
O governo não quer que toda a culpa seja atribuída ao Shin Bet, em parte porque acha que isso permitiria que os partidos de direita deixem de assumir a responsabilidade por criar as condições propícias ao assassinato do premiê.
Julgamento
Yigal Amir esteve no tribunal ontem, no primeiro dia de seu julgamento. O juiz Edmond Levy leu as acusações e depois adiou os trabalhos até 23 de janeiro, para dar tempo aos advogados de Amir prepararem sua defesa.
Amir continua justificando o assassinato. Usando um quipá preto e mascando chiclete, ele sorriu quando entrou no tribunal e, ao sentar, fez um gesto com a mão na garganta, indicando que alguém cortava seu pescoço.
Seu pai, Shlomo, um judeu religioso, orava continuamente e tentava, em vão, pedir perdão a Eitan Haber, um assessor próximo de Rabin. O governo teme que Amir utilize seu julgamento para divulgar suas posições, contrárias à paz entre palestinos e israelenses.

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